domingo, 29 de julho de 2007

Resiliência

Voltando as aulas de física. Resiliência é a propriedade que alguns materiais tem de superar uma pressão, voltando ao seu estado original sem ser alterado. Ou seja, ele recupera-se ou adapta-se rapidamente. Um exemplo, a espuma que recebendo uma pressão se deforma e terminada a pressão volta ao seu estado original. Esse termo também é usado no dia-a-dia para descrever a capacidade que as pessoas tem de, diante de um problema, uma situação adversa, se recuperar e, como dizem, dar a volta por cima tirando proveito do sofrimento ou da situação adversa. Você é resiliente? Ou é um “homem de vidro”, que quando recebe uma chapoletada da vida se quebra em mil pedaços?

Fazendo um restrospecto, acho que sou resiliente. Aliás, a minha resiliência vêm sendo testada muito nesses últimos meses. Há um ano átras, pensava estar seguro em um bom emprego, embora não trabalhasse em repartição pública ou orgão do governo. Nesse ano, inesperadamente perdi o emprego. Alegação para demissão: corte de custos (não dá para competir com os filhos do patrão!). Fiquei durante uns 2 dias sem chão ou horizonte. Me senti o substrato do pó do peido do cavalo do bandido (é assim mesmo que escreve Latinha?). Até que decidi mudar minha vida, deixar de ser o coitadinho que é digno da pena. Esse abalo que tive, rachou de vez a represa que segurava meus desejos secretos. Parece não ter nada a ver uma coisa com a outra né? Mas tem. Cansei de tentar agir seguindo um determinado padrão e só levar na cabeça. Decidi explorar, conhecer, experimentar o “proibido”. Aproveitar mais a vida, não ser tão certinho sempre. Não querendo dizer com isso que iria agir de maneira desonesta ou desleal. Ai já seria mudança de caráter, o que não aconteceu. Mudei apenas meu ponto de vista sobre um assunto. Ou seja, de uma situação aparentemente desfavorável eu tirei lições e corrigi algumas coisas. E agora aqui estou eu me preparando para uma nova situação, um novo emprego, na qual minha resiliência vai ser primordial para começar de novo, em um novo desafio. Começando de baixo de novo. Nessa montanha russa que é nossa vida, achava que estava numa subida, mas inesperadamente desci e agora começo uma nova subida.

Se formos parar para analisar, tudo ou quase tudo na vida é uma questão de ponto de vista. Mesmo nas piores situações, podemos tirar algo de bom. No começo, no auge da tempestade, talvez não vejamos nada de bom. Mas depois de passar a tormenta, encontramos as plantas que resistiram a tempestade pela sua flexibilidade. Não dá para viver isento de problemas. É como disse Michael Jansen: “A felicidade não é a ausência de problemas. A ausência de problemas é o tédio. A felicidade são grandes problemas bem administrados.” Porisso, não adianta bater de frente com as dificuldades e problemas e ser destruido por eles. É preciso ter o ponto de vista correto sobre eles. Isso sim faz a diferença. Tem uma poesia do Drummond que fala exatamente sobre isso. Faz tempo que não coloco uma aqui né? Então com vocês e para vocês, Carlos Drummond de Andrade:

"Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional."

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Exílio


Ufa!!! Voltei! Fiquei um pouco sumido daqui. Alguns problemas domésticos me forçaram a ficar fora desse mundo virtual durante alguns dias. E depois, para ajudar, o meu pc foi para o “estaleiro” (por que será que esse pessoal de informática promete as coisas para um dia e entrega 2 dias depois?). Esses dias que estive fora da blogaysfera aconteceram algumas coisas no mundo real que quero compartilhar com vocês, meus companheiros de jornada. Vamos lá:

Depois de alguns meses fazendo parte dos que são beneficiados com o seguro-desemprego, finalmente surge uma oportunidade real de emprego. Ainda não assinei contrato, mas já foi confirmada minha contratação. Estou sentindo como se estivessem tirando um peso de cima de mim. Olha, não é a toa que dizem que ficar desempregado é uma das situações mais estressantes que um homem pode enfrentar! Espero não ter que passar por isso de novo. Não tenho definição ainda de meus horários de trabalho. Se sumir de novo, já sabem qual será o motivo agora. Pelo menos até eu sentar e redesenhar minha rotina.

Outra coisa aconteceu e essa me deixou muito pensativo. Já disse aqui que vivo em um mundo extremamente homofóbico. Mas mesmo nessa situação, percebi em alguns dos quem convivo que são da irmandade. Meu gaydar acendia a luz rosa quando os observava com um pouco mais de atenção. Pois bem, esses dias atrás estava eu assistindo tv quando o telefone toca. Quando atendi me assustei. Do outro lado uma amiga aos prantos me pedia que fosse até a casa dela. Tentei saber o que estava acontecendo, mas ela pediu que fosse até lá. E lá fui eu. Quando cheguei, a situação que vi me lembrou esses episódios de trágedia, onde os parentes se desesperam com a morte trágica de alguém querido. Ela, o marido e o filho aos prantos. O motivo? Existia uma desconfiança nossa (minha e de outros amigos) de que o filho do casal, um rapaz de 17 anos, que tinha um modo meio, digamos, delicado, fosse da irmandade. Surgiu uma suspeita de que ele havia entrado em salas de bate-papo gay usando um pc de um outro amigo nosso (ele deixou rastros na máquina!). Os pais o confrontaram para saber se era verdade. Ele não só confessou que tinha entrado em salas de bate-papo como também que tinha saído com vários caras. Esse era o motivo da choradeira que vi. Algumas frases que escutei lá: “ele acabou com nossa vida!”, “eu dava tudo pra ele, porque fez isso, onde eu errei?”, “eu estraguei a vida de meus pais, mas eu quero mudar, não vou fazer mais isso”. Imaginaram a cena? E eu lá no meio. Justo eu! É redundância dizer que fiquei atônito, paralisado, sem saber o que falar ou fazer. Fiz o que achei mais urgente, tentai acalmar o povo, fazer a razão voltar a imperar.

A situação teve alguns desdobramentos que não convém dizer aqui, mas tudo isso me fez refletir um pouco. Primeiro, por que essa reação exagerada, como se alguém fosse morto tragicamente? É sempre assim que acontece quando se revela que temos simplesmente uma atração por homens? Será que é assim que ocorreria se eu revelasse o que sinto e o que já fiz? Me dá medo em pensar nisso. Mas eu sei que estou sujeito a isso. Tudo isso só reforçou o que penso sobre como devo lidar com essa situação e que já falei aqui: continuar com meu “outting” homeopático. Essa situação também me deixou um pouco constrangido. Sim, porque me vi refletido no rapaz, no sofrimento que ele deve estar passando, no pensamento de que é possivel mudar o que se sente, quando não é possível isso. Queria poder ter dito a ele que isso não é o fim do mundo, que não tem como se “curar”, que ele não é um doente por ter essa atração. Mas não podia fazer nada disso sem me expor. É horrivel esse sentimento de impotência, de querer ajudar mas não poder. Esse é um dos tributos que pago pela escolha que fiz. Fazer o que!

Para terminar, coloquei o video de uma música que curto muito, “Fake Plastic Trees” do Radiohead. Já tinha esquecido dela (ela é de 1995), mas nesses dias que estava exilado do mundo virtual, em um programa de clips na TV, a ouvi de novo. Ela foi anunciada como a “melancólica música do Radiohead”. E não é que bateu com o que eu estava sentindo?



segunda-feira, 9 de julho de 2007

Virtual


No principio, era a empolgação. Um admirável (e virtual) mundo novo, onde máscaras não existiam. Um lugar onde não importava se eu era branco, negro, amarelo, azul ou rosa. Não importava se era gordo, magro ou malhado. Podia ser eu mesmo. Podia conversar com outros da mesma espécie. Mostrei minha alma, minha essência. Vi almas alheias. Fiz amigos. Cúmplices. Desabafei. Chorei. Ri. Me emocionei com histórias de amor vividas por outros. Aqui criei coragem e saí do virtual e no mundo real realizei desejos há muito reprimidos. Extrapolei limites. Experimentei novas sensações.

Mas esse mundo tem seu “dark side”. E ele se manifesta algumas vezes. Me sinto isolado as vezes. Sabe quando você está numa roda de amigos e ninguém conversa com você? Talvez isso seja minha carência se manifestando. Como filho único, sempre tive essa necessidade de receber aprovação e atenção. Mas o que mais me incomoda nesse mundo virtual é não poder olhar nos olhos daqueles com quem converso e captar suas reações. Não consigo discernir se falam a verdade ou não, se estão sendo sinceros ou não. Recentemente passei por uma situação com um certo alguém que ilustra isso.

O conheci pelo Manhunt. Ou melhor, ele me contatou. Seus olhos logo me chamaram a atenção (duas coisas me chamam a atenção logo de cara em um homem: os olhos e, como um bom brasileiro, a bunda). Eram de um verde fascinante. O adicionei como um de meus contatos no MSN e teclamos algumas vezes. Quando percebi, estava fascinado por ele. E ele correspondia. Só havia um detalhe: 450 km nos separavam. Um estado inteiro entre nós. Fui aconselhado por uns amigos blogueiros a “sair dessa antes que seja tarde”. Não ouvi o conselho. Fizemos planos para ele vir aqui ou eu ir até ele. Enquanto isso não se realizava, nos víamos pela web cam. Me mandou fotos suas, músicas e conversamos pelo telefone. Até fui questionado se queria ser seu namorado (achei melhor conversar sobre isso pessoalmente e não pelo MSN). E conversávamos sempre que ele podia. Um dia não o vi on line. O dia seguinte também. E o outro. O que aconteceu? Um pensamento negro surgiu na minha mente. Será? Fui bloqueado? Para acabar com a dúvida, decidi bancar o detetive. Ele estava off line. O adicionei em um outro MSN que tenho. Logo em seguida ele aceitou. Estava on line! Perguntou quem eu era. Meu coração acelerou, minhas mãos tremiam, um nó na garganta me sufocava. O que aconteceu? Revelei quem eu era e perguntei: “Vc me bloqueou? Pq?”. “Não. Deixa eu ver. Ue, vc sumiu dos meus contatos, acho que apaguei sem querer” (!!!!??). “Pq fez isso?” continuei questionando. Ele, gaguejou, tentou explicar. Renovou promessas e eu . . . eu acreditei. Por que algumas vezes pensamos com o coração e não com o cérebro? Continuamos a conversar outros dias. Até que tudo se repetiu. Ele off line por dias seguidos. Eu com o coração apertado. Novamente o detetive Bob atuou e descobriu que ele estava on line. Chega! Por que agir assim? Por que não dizer que não queria mais nada? Uma razão apenas.

Episódios como esse, revelam o lado negro do mundo virtual. Afinal ele, o mundo virtual, tem como origem pessoas, com suas falhas e vícios. Mas também suas virtudes. Pessoas confusas e inseguras habitam-no. Mas também, pessoas sinceras e verdadeiras. E essas fazem valer a pena continuar aqui. Como um certo cara, que venho conversando a algumas semanas e que também conheci em um site de relacionamentos (o disponível). Ele também não mora aqui em minha cidade, mas mora a 66 km daqui (bem mais perto que o outro!). Não é blogueiro (ainda). Converso com ele praticamente todos os dias e quanto prazer isso me dá! Tenho por ele um carinho especial, coisa de amigo, vamos deixar claro. Ele me alegra, me faz dar gargalhadas, me emociona às vezes. Tem uma alma linda! Nesse mês vamos nos conhecer pessoalmente e espero que com isso possamos sacramentar nossa amizade. Tem também meus amigos blogayros, que alegram minha existência no mundo virtual. Enfim, pessoas que anulam qualquer péssima experiência com os dissimulados do mundo virtual.

Mas essas péssimas experiências tem o seu lado positivo. Thomas Edison no processo de invenção da lâmpada elétrica, tentou e falhou muitas vezes, alguns falam em mais de 1.000 tentativas fracassadas! Conta-se que alguém perguntou a Edison se ele, desanimado por todos os seus fracassos, não pensou em desistir. E ele respondeu: “Aqueles foram passos do caminho. Em cada tentativa, eu encontrava um modo de não criar a lâmpada elétrica. Eu estava sempre disposto a aprender, mesmo através dos meus erros”. Ele descobriu mais de 1.000 maneiras de não criar um lâmpada. Assim também, eu aprendi uma maneira de não agir no mundo virtual.