
Voltando as aulas de física. Resiliência é a propriedade que alguns materiais tem de superar uma pressão, voltando ao seu estado original sem ser alterado. Ou seja, ele recupera-se ou adapta-se rapidamente. Um exemplo, a espuma que recebendo uma pressão se deforma e terminada a pressão volta ao seu estado original. Esse termo também é usado no dia-a-dia para descrever a capacidade que as pessoas tem de, diante de um problema, uma situação adversa, se recuperar e, como dizem, dar a volta por cima tirando proveito do sofrimento ou da situação adversa. Você é resiliente? Ou é um “homem de vidro”, que quando recebe uma chapoletada da vida se quebra em mil pedaços?
Fazendo um restrospecto, acho que sou resiliente. Aliás, a minha resiliência vêm sendo testada muito nesses últimos meses. Há um ano átras, pensava estar seguro em um bom emprego, embora não trabalhasse em repartição pública ou orgão do governo. Nesse ano, inesperadamente perdi o emprego. Alegação para demissão: corte de custos (não dá para competir com os filhos do patrão!). Fiquei durante uns 2 dias sem chão ou horizonte. Me senti o substrato do pó do peido do cavalo do bandido (é assim mesmo que escreve Latinha?). Até que decidi mudar minha vida, deixar de ser o coitadinho que é digno da pena. Esse abalo que tive, rachou de vez a represa que segurava meus desejos secretos. Parece não ter nada a ver uma coisa com a outra né? Mas tem. Cansei de tentar agir seguindo um determinado padrão e só levar na cabeça. Decidi explorar, conhecer, experimentar o “proibido”. Aproveitar mais a vida, não ser tão certinho sempre. Não querendo dizer com isso que iria agir de maneira desonesta ou desleal. Ai já seria mudança de caráter, o que não aconteceu. Mudei apenas meu ponto de vista sobre um assunto. Ou seja, de uma situação aparentemente desfavorável eu tirei lições e corrigi algumas coisas. E agora aqui estou eu me preparando para uma nova situação, um novo emprego, na qual minha resiliência vai ser primordial para começar de novo, em um novo desafio. Começando de baixo de novo. Nessa montanha russa que é nossa vida, achava que estava numa subida, mas inesperadamente desci e agora começo uma nova subida.
Se formos parar para analisar, tudo ou quase tudo na vida é uma questão de ponto de vista. Mesmo nas piores situações, podemos tirar algo de bom. No começo, no auge da tempestade, talvez não vejamos nada de bom. Mas depois de passar a tormenta, encontramos as plantas que resistiram a tempestade pela sua flexibilidade. Não dá para viver isento de problemas. É como disse Michael Jansen: “A felicidade não é a ausência de problemas. A ausência de problemas é o tédio. A felicidade são grandes problemas bem administrados.” Porisso, não adianta bater de frente com as dificuldades e problemas e ser destruido por eles. É preciso ter o ponto de vista correto sobre eles. Isso sim faz a diferença. Tem uma poesia do Drummond que fala exatamente sobre isso. Faz tempo que não coloco uma aqui né? Então com vocês e para vocês, Carlos Drummond de Andrade:
"Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional."