quinta-feira, 24 de maio de 2007

Amizade


Vínicius de Moraes escreveu certa vez: “E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ...”. O poetinha foi certeiro nas palavras. O que seria de nós sem os amigos? Muitos confundem amigo com colega. Chamam de amigo a pessoa que conheceu a poucas horas. Mas amizade subentende passar tempo juntos, ter coisas em comum, conversar, rir junto, chorar junto, fazer confidências, ouvir confidências. Amigos são aqueles que tem acesso exclusivo ao nosso interior. Aqueles que sabem só nos olhando ou conversando um pouco, como estamos por dentro. Amigos são, parafraseando palavras do poetinha, “indispensáveis ao nosso equilíbrio vital, porque fazem parte do mundo que nós, trêmulamente construímos, e se tornaram alicerces de nossa vida. Se um deles morrer, ficaremos tortos para um lado. Se todos eles morrerem, desabamos!” E a idade ou a diferença de idade não é um dos pré-requisitos para se fazer amizade.
Amigos são o nosso espelho crítico. É difícil aceitar críticas de parentes, do chefe, do professor ou de colegas. Mas quando um amigo nos diz verdades a nosso respeito costumamos aceitar com mais facilidade. Estou escrevendo tudo isso porque passei por isso nesta semana. Estava trilhando um caminho que só Deus sabe onde iria acabar. Estava agindo por puro instinto sexual, alimentado pela frustração de uma rejeição e por uma necessidade de auto-afirmação. Por conta disso acabei me inscrevendo nesses sites de relacionamento, onde você coloca seu perfil e fotos e sai a caça de homem para sexo e eventualmente uma amizade. Aprendi na prática a regra do jogo. Você conheceu anteontem um cara. Teclou alguns minutos ontem. Hoje se encontrou com ele. Amanhã você não o vê mais on line. Depois de amanhã descobre que seu MSN foi bloqueado por ele. Sexo por sexo. Simples assim, sem envolvimento algum. Não que nesses sites você não encontre pessoas sinceras, querendo um relacionamento de amizade. Encontra. Mas é a exceção, a regra é o relacionamento carnal, sexual. Então, comecei a jogar de acordo com as regras do jogo. Até que um amigo me nocauteou: “Você não é assim. Quando te conheci vc não era assim. Isso é perigoso. Não concordo com essa sua atitude”. Me conectei a realidade novamente. Não sou mesmo assim. Quero a cumplicidade de uma amizade, que pode ter nuances e ser colorida, quente e arrebatadora. Mas que também pode transcender o carnal e ser etérea. A amizade assume várias formas e pode ser rotulada de várias maneiras. Mas em todas existe o relacionamento e a cumplicidade. É isso que procuro. Mas não era isso que estava fazendo. Estava agindo como um predador, procurando por um pedaço de carne para devorar rapidamente. Precisei corrigir meu caminho. Ter mais paciência para pelo menos saber com quem estou me relacionando. Tudo isso desencadeado pelos comentários de um amigo.
Amigo, você é o cara. O Cara Imperfeito.

domingo, 20 de maio de 2007

Intuição


Você já deve ter visto ou vivido isso: alguém está de viagem marcada e na última hora decide não ir. Uma inexplicável preguiça toma conta dela e não vai. Descobre depois que, se tivesse viajado, não estaria viva porque o avião ou ônibus sofreu um acidente e ninguém sobreviveu ou a casa onde ia ficar pegou fogo. Já teve esses avisos intuitivos do inconsciente de que alguma coisa importante irá acontecer? Algumas vezes eu tenho isso. Uma intuição, um sexto sentido, um insight, um estalo, um pressentimento (ou outro termo que queira chamar isso) como que me alertando para algo que está para acontecer. E as vezes isso me assusta. Por exemplo, um tempo átras estava mudando de emprego e havia feito uma entrevista. Estava em casa aguardando a resposta. Olhei para o telefone e imaginei a pessoa pegando o telefone e discando meu número. Daí a pouco o telefone toca e quem era? A pessoa que imaginei, para falar comigo sobre a entrevista. Seria eu um mutante? Um novo aluno para o professor Xavier?

Deixando a brincadeira de lado, eu citei isso por que tive um pressentimento de que algo está para acontecer nesses próximos dias. Em abril escrevi um post e mencionei um rascunho de como pretendo ir resolvendo vários assuntos na minha vida. No fim deste mês vou começar a dar um rumo para um assunto que me incomoda muito: religião. Mas minha intuição me diz que as coisas não vão correr como eu planejei. Acho que meu subconsciente está interpretando fatos, sensações e observações que minha consciência não vê e está me alertando sobre isso para me preparar para aquilo que eu não queria que acontecesse. Não gosto quando as coisas fogem do meu controle, quando não posso direcionar a situação para onde quero. Talvez vocês não estejam entendendo bem o que escrevo, mas não posso ainda dar detalhes sobre essa situação que vivo. Mais à frente pretendo explicar em detalhes isso. Mas, o fato é que sinto cheiro de tempestade se aproximando! Espero que inesperados ventos fortes dissipem as nuvens da tempestade. Torçam por mim!

Uma última observação. Fiquei muito feliz com os comentários de meu último post. Queria agradecer a todos que visitam meu blog e especialmente aos que deixam um comentário. Adoro ler suas palavras e procuro aprender um pouco com elas. Foxx, Oz, Viajante Interdimensional, Luiz Pep, Cara Imperfeito, Kaike, Segredo, Carioca, Tin Man, Garoto Anacrônico, Bofiscândalo, Hairy Bear, PH, Poison, Aventura e Sampa, amigos que sempre visitam meu blog, obrigado! Também: Eu, Morgaine (a presença feminina é sempre bem-vinda, comente sempre minha amiga), Hotspot_fortaleza, Eleonor V Vorsky e Henrique que visitaram pela primeira vez ou resolveram comentar pela primeira vez aqui sejam bem-vindos e retornem sempre que possível.
"Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade, ou te apontam a realidade, porque amigo é a direção, é a base, quando falta o chão!" Machado de Assis

sábado, 12 de maio de 2007

Natural?

Aproveitando o embalo da visita do papa Bento XVI ao Brasil e todo o alvoroço na mídia que vêm causando, resolvi comentar um assunto que durante boa parte de minha vida causou muito sofrimento.

É sabido por todos a posição que o papa defende com relação a homossexuais. Estão sendo feitas várias manifestações em várias partes sobre essa posição defendida pelo papa. Mas essa não é uma posição exclusiva da Igreja Católica. Quase todas, senão todas as religiões defendem o mesmo ensino (me corrijam se estiver errado) - que a homossexualidade é um pecado sério, que não se deve aprovar e sim condenar a união entre pessoas do mesmo sexo, que isso é algo que vai contra a natureza. Desde pequeno ouço isso, pois fui criado em uma religião que defende essas idéias. Vocês podem então imaginar o quanto eu sofri ouvindo quase que diariamente isso e tendo dentro de mim justamente o que era “errado”. Eu vivia um conflito interno, implorando ajuda. Isso com certeza alimentou minha introversão e baixa estima. Freud disse certa vez: “a voz da razão é baixa, mas persistente”. Alguma coisa não me convencia nessa história e recentemente descobri o que me incomodava.

Como disse, o principal argumento usado pelas religiões contra a homossexualidade é que ela não é natural, o homem não foi criado para ter relação sexual com outro homem. O pênis foi criado para se encaixar naturalmente na vagina no ato sexual. Se ele é usado para fins sexuais em outros lugares é desnatural, dizem as religiões. Vendo por esse lado parece haver lógica. Sexo oral então, também seria desnatural já que conforme o dicionário Aurélio, a boca é definida como a “entrada do tubo digestivo, pela qual os homens e outros animais ingerem os alimentos”. O uso natural da boca seria esse.Não foi feita então para o sexo oral. Mas um momento. Se usarmos esse critério, o beijo seria desnatural também, já que você estaria usando a boca para algo que não foi projetada. Até mesmo beijar e sugar os seios de uma mulher seria desnatural também (o uso natural dos seios seriam a amamentação). E é interessante que a própria bíblia aprova o beijo na boca e o uso sexual dos seios, atos esses que seriam desnaturais se seguirmos esse raciocinio (se quiserem comprovar: Provérbio 5, 19; Cântico dos Cânticos 1, 2).

A questão seria então, não o que é ou não natural, mas o que é ou não aceito como natural. Se para um grupo, determinado comportamento é aceito como comum, para esse grupo ele é natural. Veja o caso dos gregos que aceitavam o sexo entre homens, por exemplo. E cada vez mais hoje existem pessoas que vêem o comportamento gay como normal (nós por exemplo). Tudo bem que muita água precisa rolar embaixo dessa ponte ainda. Mas a água já está fluindo. Há um tempo atrás era completamente fora dos padrões morais um casal viver junto sem estar casado. Mas isso já é aceito como normal por muitos. Então é uma questão de tempo para que o sexo entre homens também seja visto como normal e consequentemente natural. Estou surtando muito? Talvez. Prefiro pensar assim agora. Mas que isso já preocupa e muito o papa, isso preocupa. É cardeal Ratzinger, a revolução já começou. Ou seria evolução?

Como uma homenagem a visita de Bento XVI, finalizo com um belo clip da banda islandesa Sigur Ros:



segunda-feira, 7 de maio de 2007

Desafio


Excepcionalmente escrevo um post logo em seguida de outro. Não costumo fazer isso (para dar tempo de vocês lerem e comentarem). Mas como fui desafiado hoje pelo Oz, achei melhor ser rápido no gatilho. Mas, por favor, leiam e comentem no post anterior, ok?


Se eu fosse. . .
Se eu fosse uma hora do dia, seria o amanhecer, com toda sua esperança.
Se eu fosse um astro, seria um buraco negro, sugando tudo ao redor.
Se eu fosse uma direção, seria para o alto, sempre.
Se eu fosse um móvel, seria um divã (de preferência com um psicanalista do lado).
Se eu fosse um líquido, seria lágrima (de alegria).
Se eu fosse um pecado, seria luxúria.
Se eu fosse uma pedra, seria quartzo.
Se eu fosse uma árvore, seria um Ipê amarelo.
Se eu fosse um fruto, seria uma suculenta melância.
Se eu fosse um clima, seria subtropical
Se eu fosse uma flor, seria uma orquídea.
Se eu fosse um instrumento musical, seria um saxofone.
Se eu fosse um elemento, seria o ar.
Se eu fosse uma cor, seria do azul-celeste ao azul marinho, dependendo do momento.
Se eu fosse um animal, seria uma águia.
Se eu fosse um som, seria a gargalhada de um bêbe.
Se eu fosse uma música, seria “La Forza Della Vita” de Renato Russo para o dia-a-dia, na hora do amor seria uma que conheci recentemente “Straight To Number One”.
Se eu fosse um estilo musical, seria rock.
Se eu fosse um sentimento, seria ternura.
Se eu fosse um livro, seria um romance policial com muito mistério.
Se eu fosse uma comida, seria macarrão a Putanesca.
Se eu fosse um lugar, seria uma praia em Bora Bora.
Se eu fosse um gosto, seria o doce do mel.
Se eu fosse um cheiro, seria cheiro de relva molhada.
Se eu fosse uma palavra, seria tolerância.
Se eu fosse um verbo, seria amar.
Se eu fosse um objeto, seria um câmera digital.
Se eu fosse uma peça de roupa, seria uma cueca de seda.
Se eu fosse uma parte do corpo, seria os olhos.
Se eu fosse uma expressão facial, seria um sorriso.
Se eu fosse um personagem de HQ, seria o Garfield.
Se eu fosse um filme, seria Happy Feet (adoro desenhos).
Se eu fosse uma forma, seria um círculo.
Se eu fosse um número, seria o 1.
Se eu fosse uma estação, seria a primavera, a estação em que nasci.
Se eu fosse uma frase, seria “o tempo é o senhor da razão”.


Como faz parte do jogo (hehehehehehe!!!) eu agora desafio:

domingo, 6 de maio de 2007

Conspiração


Eu tenho observado uma conspiração acontecer ao meu redor. Veja se não tenho razão:
Cena 1 - estou numa consulta com um oftalmologista, pois tenho observado as letras meio que embaçadas quando vou ler. Tenho astigmatismo num grau bem baixo e achava que o grau aumentou. O oftalmo, depois de me examinar, disse que meu grau de astigmatismo estacionou, mas que agora tenho presbiopia. “Pres o quê?” perguntei. “Presbiopia, popularmente chamada vista cansada, é a perda da elasticidade do cristalino que acontece depois dos 40 anos” respondeu o oftamo. “Depois dos 40”, essa frase maldita começou a me preocupar, pois há pouco tempo entrei para a era da idade “enta” (quarenta, cinquenta, etc; se me animar até o fim do post revelo minha idade).
Cena 2 – estou eu lendo a excelente revista Men’s Health (com óculos para vista cansada, fazer o que né?), quando me deparo com a seguinte frase: “A partir dos 40 anos seu corpo começa a perder massa muscular (1% a cada ano)”. Olha a frase maldita aí com roupa nova!
Cena 3 – assistindo tv, num intervalo de um programa qualquer, começa a passar uma propaganda do Boston Medical Group. A loirona da propaganda diz algo assim: “52% dos homens com mais de 40 anos sofrem de disfunção erétil”. Peraí, disfunção erétil é um eufemismo para impotência! A frase maldita atacou de novo. Mas aí já é demais né?
Não estou certo em ver essa conspiração para fazer-nos crer que depois dos 40 anos parece que você chegou ao topo da montanha russa e agora só o que te espera é uma descida rápida para a senilidade? Amigos da casa dos quarenta (e aqueles da casa dos trinta que estão na pré-sala da era "enta"), diante dessa conspiração, dessa lavagem cerebral insidiosa, dessa propaganda subliminar que estamos expostos só temos 2 opções: deixarmos passivamente sermos influenciados, ou ativamente nos rebelarmos contra isso. Como eu sou mais ativo que passivo (pelo menos tento), resolvi não me deixar levar por essa papagaida toda. Isso não quer dizer que vou agir como um “adultescente”, aquele cara que não tem mais 18 anos faz tempo, mas que se comporta como se fosse um menino (lembram do Tio Sukita?). Eu tomo simancol regularmente, podem ficar tranquilos.
Não só eu penso assim. Basta dar uma olhada por aí. Homens e mulheres com mais de quarenta se destacando em meio a tirania da juventude sarada. Exemplos? Vamos lá: no ranking dos homens mais sexy do mundo feito em 2006 pela revista People, o primeiro lugar foi pela segunda vez consecutiva para Goerge Clooney (45 anos), que igualou a marca de Brad Pitt (42 anos e meu sonho de consumo) que ficou em 15º lugar na lista de 2006 (injustiça!!!); o segundo da lista foi Patrick Dampsey (40 anos) da série “Grey’s Anatomy”; na lista também entrou o camaleônico Johnny Deep (43 anos) em 5º lugar. Entre as mulheres vou citar apenas uma, a ícone pop Madonna (48 anos). É, não se fazem mais quarentões como antigamente!

Para mim juventude é uma questão de atitude. Já vi muitos garotos de 16, 18, 20 anos terem atitude de 80 anos, com medo de inovar, de conhecer e de aprender sempre. Para o tributo que o tempo nos cobra há solução. Presbiopia/vista cansada? Óculos (com estilo por favor, nada daquelas armações cafona e nunca, nunca deixe o óculos apoiado na ponta do nariz). Forma do corpo cada vez mais semelhante a uma maçã? Excesso adiposo na barriga? Academia e suplementos. Disfunção erétil/impotência (vade reto)? Viagra. Agora para falta de atitude para com a vida, isso não tem solução. E é triste ver pessoas desistindo de viver, desistindo de sempre cultivar a juventude, não importa a idade física que se tenha. Sim, cheguei ao topo da montanha russa. Só que lá embaixo não vejo a senilidade, mas o início de um looping. Um não, vários.

E é legal quando tenho reconhecimento por essa atitude. Semanas atrás, conversando com um blogueiro pelo msn, a certa altura do papo ele me pergunta: “qual tua idade? vc tem 18 neh?”. Desnecessário dizer que do lado de cá da tela fiquei com um sorriso de orelha a orelha. “Não, tenho um pouquinho mais, 41” respondi. “Pensei q vc tivesse 18”, finalizou ele. Putz, falei minha idade! Tudo bem, não vou apagar, mas se alguém me chamar de “tiozão” vai levar porrada! Eu prefiro maninho, irmão mais velho, sabe? Mas não tão velho, ok?

Se vocês acharam que eu ia terminar esse post sem uma poesia, se enganaram. Uma poesia de Artur da Távola, que decidi colocar na íntegra e não mutilar nada. Eu sei que alguns (im)perfeitos marrentinhos vão dizer: “PPA”. Pode falar, mas se você chegou até aqui, leia a poesia. Diga para os caras que estão te chamando no MSN que você volta em 1 minuto, que está ocupado, que vai ao banheiro, sei lá. Mas leia.

Ser jovem.
Quem não gosta de permanecer jovem?

Ser jovem
é amar a vida, cantar a vida, abraçar a vida,
perdoando até as pedradas que a vida nos joga em rosto.

Ser jovem
é ter altos e baixos, entusiasmos e desalentos.
É vibrar com os momentos bons e passar por cima do que nos machuca,
com um sorriso fácil apagando os percalços.

Ser jovem é apiedar-se dos mais fracos,
não ter vergonha de fazer um sinal da cruz em público,
cantarolar uma canção em pleno ônibus.
E apreciar uma piada gostosa.

Ser jovem
é escrever diário, às vezes.
Copiar poesias de amor e remetê-las ao namorado, à namorada, com assinatura própria.

Ser jovem
é compadecer-se de quem sofre, com aquela vontade imensa de fazer o milagre da cura,
de restituir a saúde àqueles que a gente estima e ama.

Ser jovem
é beber um lindo pôr-do-sol, ar livre e noites estreladas.
Não se intrometer na vida alheia, fazer silêncios impossíveis,
ficar ao lado das crianças, gostar de leitura,
ter ódio de guerra e de ser manipulado.

Ser jovem é ter olhos molhados de esperança e adormecer com problemas,
na certeza de que a solução madrugará no dia seguinte.

Ser jovem é amar a simplicidade, o vento, o perfume das flores, o canto dos pássaros.
Ter alegria ao dramático, ao solene.
E duvidar das palavras.

Ser jovem é vibrar um gol do time,
jogar na loteria esportiva, emocionar-se com filmes de ternura e
simpatizar secretamente com alguém que a gente viu só de passagem.

Ser jovem é planejar praias no fim do ano,
sonhar com um giro pela Europa e uma esticada pela Disneylândia... algum dia.

Ser jovem é sentir-se um pouco embaraçado diante de estranhos,
não perder o hábito de encabular,
tremer diante de um exame e detestar gente gritona e resmunguenta.

Ser jovem é continuar gostando de deitar na grama, caminhar na chuva,
iniciar cursos de inglês e violão, sem jamais terminá-los.
Ser jovem é não dar bola ao que dizem e pensam da gente.
Mas irritar-se, quando distorcem nossas melhores intenções.

Ser jovem é aquele desejo de fazer parar o relógio, quando o encontro é feliz,
quando a companhia é agradável e aventura toma conta do nosso ser.

Ser jovem é caminhar firme no chão, à luz de alguma estrela distante.
Ser jovem é avançar de encontro à morte,sem medo da sepultura e do que vem depois.
Ser jovem é permanecer descobrindo, amando, servindo, sem nunca fazer distinção de pessoas.
Ser jovem é olhar a vida de frente, bem nos olhos, saudando cada novo dia, como presente de Deus.
Ser jovem é realimentar o entusiasmo, o sorriso, a esperança, a alegria, a cada amanhecer...
Ser jovem é acreditar um pouco na imortalidade, em vida.
É querer a festa, o jogo, a brincadeira, a lua, o impossível.
Ser jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo ali.
É só pensar na morte, de vez em quando.É não saber nada e poder tudo.
Ser jovem é gostar de dormir e crer na mudança.
É meter o dedo no bolo e lamber o glacê.
É cantar fora do tom, mastigando depressa, mas engolir devagar a fala do avô.
Ser jovem é embrulhar as fossas no celofane do não faz mal.
É crer no que não vale a pena, mas ai da vida se não fosse assim.
Ser jovem é misturar tudo isso com a idade que se tenha,trinta, quarenta, cinqüenta, sessenta, setenta ou dezenove.

É sempre abrir a porta com emoção. É abraçar esquinas, mundos, luzes, flores, livros, discos, cachorros e a menininha,com um profundo, aberto e incomensurável abraço feito de festa, dentes brancos e tímidos, todos prontos para os desencontros da vida.
Com uma profunda e permanente vontade de ser.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Rosa

Comecemos o mês de maio. Eu ia escrever sobre um assunto quando recebi este texto aí embaixo, muito interessante e pertinente (o assunto que ia escrever tem algo a ver com isso). Achei melhor colocar o texto hoje, senão o post ia ficar muito grande. Leiam, vale a pena! E depois, podem comentar.

"No primeiro dia de aula nosso professor se apresentou aos alunos, e nos desafiou a que nos apresentássemos a alguém que não conhecêssemos ainda. Eu fiquei em pé para olhar ao redor quando uma mão suave tocou meu ombro. Olhei para trás e vi uma pequena senhora, velhinha e enrugada, sorrindo radiante para mim, com um sorriso que iluminava todo o seu ser.
Ela disse:
- Hei, bonitão. Meu nome é Rosa. Eu tenho oitenta e sete anos de idade. Posso te dar um abraço?
Eu ri, e respondi entusiasticamente:
- É claro que pode! - e ela me deu um gigantesco apertão.
- Por que você está na faculdade em tão tenra e inocente idade? - perguntei.
Ela respondeu brincalhona:
- Estou aqui para encontrar um marido rico, casar, ter um casal de filhos, e então me aposentar e viajar.
- Está brincando - eu disse.
Eu estava curioso em saber o que a havia motivado a entrar neste desafio com a sua idade, e ela disse:
- Eu sempre sonhei em ter um estudo universitário, e agora estou tendo um!
Após a aula nós caminhamos para o prédio da união dos estudantes, e dividimos um "milkshake" de chocolate. Nos tornamos amigos instantaneamente.
Todos os dias nos próximos três meses nós teríamos aula juntos e falaríamos sem parar.
Eu ficava sempre extasiado ouvindo aquela "máquina do tempo" compartilhar sua experiência e sabedoria comigo.
No decurso de um ano, Rosa tornou-se um ícone no campus universitário, e fazia amigos facilmente, onde quer que fosse.
Ela adorava vestir-se bem, e revelava-se na atenção que lhe davam os outros estudantes. Ela estava curtindo a vida!
No fim do semestre nós convidamos Rosa para falar no nosso banquete de futebol.
Jamais esquecerei do que ela nos ensinou. Ela foi apresentada e se aproximou do pódio. Quando ela começou a ler a sua fala preparada, deixou cair três das cinco folhas no chão.
Frustrada e um pouco embaraçada, ela pegou o microfone e disse simplesmente:
- Desculpe-me, eu estou tão nervosa! Parei de beber por causa da Quaresma, e este uísque está me matando! Eu nunca conseguirei colocar meus papéis em ordem de novo, então me deixe apenas falar para vocês sobre aquilo que eu sei.
Enquanto nós ríamos, ela limpou sua garganta e começou:
- Nós não paramos de amar porque ficamos velhos; nós nos tornamos velhos porque paramos de amar. Existem somente quatro segredos para continuarmos jovens, felizes e conseguindo sucesso. Você precisa rir e encontrar humor em cada dia. Você precisa ter um sonho. Quando você perde seus sonhos, você morre. Nós temos tantas pessoas caminhando por aí que estão mortas e nem desconfiam! Há uma enorme diferença entre ficar velho e crescer.
Se você tem dezenove anos de idade e ficar deitado na cama por um ano inteiro, sem fazer nada de produtivo, você ficará com vinte anos. Se eu tenho oitenta e sete anos e ficar na cama por um ano e não fizer coisa alguma, eu ficarei com oitenta e oito anos. Qualquer um consegue ficar mais velho. Isso não exige talento nem habilidade. A idéia é crescer através de sempre encontrar oportunidade na novidade. Isto não precisa nenhum talento ou habilidade. A idéia é crescer sempre encontrando a oportunidade de mudar. Não tenha remorsos. Os velhos geralmente não arrependem daquilo que fizeram, mas sim por aquelas coisas que deixaram de fazer. As únicas pessoas que tem medo da morte são aquelas que tem remorsos.
Ela concluiu seu discurso cantando corajosamente "A Rosa".
Ela desafiou a cada um de nós a estudar poesia e vivê-la em nossa vida diária. No fim do ano Rosa terminou o último ano da faculdade que começou há todos aqueles anos atrás.
Uma semana depois da formatura, Rosa morreu tranqüilamente em seu sono.
Mais de dois mil alunos da faculdade foram ao seu funeral, em tributo à maravilhosa mulher que ensinou, através de exemplo, que nunca é tarde demais para ser tudo aquilo que você pode provavelmente ser.
Ficar velho é obrigatório, crescer é opcional."