sábado, 10 de novembro de 2007

Ciclo


Mais de um mês! Nunca pensei que ficaria tanto tempo assim sem postar. Estou bem, nada de grave aconteceu que explique meu sumiço. Aqueles que me vêem no MSN sabem o motivo desse meu desaparecimento. Falta de tempo mesmo. E o tempo que tenho é direcionado para um certo alguém.
Dando uma olhada pelos blogs na blogaysfera, notei algo interessante. Um processo que cada um desenvolve em maior ou menor grau. O que aconteceu comigo é um típico exemplo disso. Vivia com dúvidas, corroído pela culpa de sentir algo “anormal”. A dúvida olhava para mim e dizia: decifra-me ou devoro-te. Resolvi depois de muito tempo, decifrá-la. Uma das armas encontradas para isso foi criar um blog, um diário virtual onde poderia escrever sobre minhas angustias, meus desejos, minhas preocupações, minhas alegrias, minhas tristezas. . . escrever sobre minha vida. Poderia verbalizar meus temores. Materializar minhas incertezas. Como um espelho, podia me ver e tentar me entender. Mas o blog fez mais. Através dele debutei no mundo gay. Por causa dele, conheci pessoas com angústias e situações semelhantes. Aprendi, chorei, ri, meditei, surtei, ousei e me decifrei. Bom, pelo menos eu acho que sim. Tem muita coisa amarrada ainda, encrunhada aqui dentro. Mas o gaynoma essencial foi decifrado. Me aceitando melhor, decidi me entregar a um sentimento por um certo alguem que existia aqui dentro e que tinha medo dele: o amor. Fechei os olhos e me joguei de cabeça nele. . . não me arrependo de tê-lo feito. Me arrependo sim de não ter feito isso antes. Agora, toda minha atenção é canalizada para esse amor. E o blog? Não vou extinguir o blog. Tenho um carinho especial por ele. Vai continuar a existir, como um testemunho de minha caminhada. Talvez alguem possa tirar proveito dele, se identificar com a minha situação, como me identifiquei com outros blogs no começo. Vou continuar a escrever nele também. Só que com menos frequência. Notei que muitos blogs pararam. O processo que levou a isso, acredito que tenha sido semelhante ao meu, com resultado diferente. Novos blogs surgiram. E vão surgir muitos ainda. É o ciclo da vida virtual dos blogs. E este blog entra num novo ciclo.

domingo, 30 de setembro de 2007

O tempo


É meus brothers o tempo passa. Impiedosamente, diria eu. Sem nos dar chance de meditar no que acontece em nossas vidas. Quando vemos, passou um ano. Puxa! Há um ano atrás eu não poderia imaginar, nem nos meus mais loucos devaneios, que minha vida estaria como está. Nunca imaginaria que faria o que fiz. Ou que teria coragem para aceitar alguns fatos que até então eram inaceitáveis. Não sonhava estar vivendo um sonho, um relacionamento intenso, sincero, arrebatador, desafiador, inspirador. Daqueles que te fazem começar a rir sozinho de felicidade, assim do nada. É, . . . realmente o tempo corre.

Por que essas divagações inesperadas? Porque no último dia 24 de setembro fiz aniversário. Literalmente completei mais uma primavera de vida. Nasci no 2º dia da primavera. Durante um tempo não aceitava muito bem ter nascido dia 24. Principalmente na época de escola. Escondia até onde podia a data de meu nascimento. Era uma zoação só. Hoje não ligo. Fiz as pazes com o 24. Bobeira isso né? Como se um número tivesse o poder de influenciar sua vida, definir sua orientação sexual ou sua preferência. No meu caso, foi puro acaso.

Como será que vai ser daqui um ano? Não tenho a habilidade de prever o futuro. Aliás, nem quero saber disso mais. Joguei fora minha bola de cristal. Eu tinha uma mania de ficar pensando no futuro, de como seriam as coisas. Muitas vezes acabava sofrendo, porque ficava imaginando coisas que nunca aconteciam. Sofria antecipado por coisas que não tinham acontecido ainda e que não aconteceram. Bicho bobo né? Como será o amanhã, só Deus sabe. E ele não costuma mandar boletins com a previsão do futuro pessoal de cada um. E não acredito que está tudo escrito, que tudo foi já predeterminado em nossa vida ou que forças sobrenaturais determinam nosso futuro. Não acredito que somos fantoches manipulados pelo capicho de forças sobre-humanas. O futuro, nós que escrevemos. E nada adianta fazer exercícios de previsão do futuro. As variáveis em nossa vida são muito grandes. Não tem como termos a certeza de que algo vai realmente acontecer. Por isso, vivo hoje um dia por vez. Penso hoje. Amanhã, quando chegar, eu vejo como agir. Chega de sofrer por antecipação e perder o prazer que o presente traz. Não quero mais ficar lamentando o passado, arrependido por não ter vivido, por não ter aproveitado o presente. É claro, precisamos viver a vida com responsabilidade. Mas nada de ficar pensando que coisas más vão acontecer. Basta o mal ao seu próprio dia.

Chega né? Filosofei demais. É a síndrome pós aniversário!

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Amor


Quem inventou o amor? Me explica por favor!
Poetas já o descreveram. Filósofos o definiram. Cientistas o estudaram. Mas, eu preciso saber: como reconhecer o amor? Quais os seus sintomas? Será que ele se manifesta nesse desejo de te ver sempre, essa vontade de estar simplesmente ao seu lado te admirando, velando seu sono, vendo sua respiração, analisando seus detalhes e medindo com o olhar teu corpo? Ou então nesse brilho ofuscante que ocorre quando cruzamos olhares? Ficar olhando para sua foto no meu monitor e acariciar com o dedo o seu rosto, contornando seus lábios, me perdendo no seu olhar e me encontrando no seu sorriso (como estou fazendo agora ao escrever esse texto). E essa alegria que incendeia meu coração quando te vejo, seja ao vivo, seja virtualmente, como o sol iluminando o dia mandando embora a noite fria e escura, me fazendo sentir como se estivesse num lapso temporal. Seria um de seus sintomas? O prazer de te ver sorrindo, gargalhando daquilo que falo ou faço. E a satisfação de saber que provoco em você mudanças no humor e no olhar, mudanças essas que motivam outros a te perguntar: “o que está acontecendo? Seus olhos estão brilhando como nunca vimos antes!”. E esse desejo absurdo que tenho de gritar ao mundo o que sinto, mas tenho de amordaçar minha boca e trazer cativo meu desejo para não fazer uma loucura. E esse contentamento descontente que sinto? Contente e radiante pelo que passamos juntos ou com o que estamos sentindo. Mas descontente fico, porque queria estar ao seu lado sempre. Me consome saber que não está aqui comigo. E essa dor que desatina sem doer quando te vejo partir? Estranho também como meu egoísmo se rende aos seus desejos, abrindo mão de minhas preferências para poder te satisfazer e ainda me sentir feliz por isso. Estar feliz por ver a tua satisfação. Pensar em você quando acordo e dormir pensando em você. Me derreter todo quando vejo um sorriso seu. Intrigante também é como agora não sinto atração ou desejo por nenhum outro a não ser você. Cativo e irremediavelmente conquistado. E feliz.
Quem inventou o amor? Ou, quem já sentiu o amor? Me explica, por favor!?

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Histórias


Já pensou se as histórias que vivemos em nossa vida fossem como as obras de ficção? Todos os episódios de nossa vida tivessem princípio, meio e fim? Como em um conto de fadas, começassem com o “era uma vez” e terminassem com o “e viveram felizes para sempre”? Não que nossa vida seja feita de inúmeros episódios não acabados, romances que faltam as últimas páginas. Muita coisa se resolve e tem um final. Mas boa parte do que vivemos é uma obra aberta, ainda com final indefinido, aguardando a providência divina ou humana para que o ponto final seja colocado. E algumas nem serão encerradas. Eu digo isso devido a um comentário interessante deixado por um visitante aqui do meu blog. Ele escreveu o seguinte nos coments do post anterior:

"Moisés disse...
Você escreve muito bem. Gosto de suas reflexões, mas sinto falta das conclusões das histórias. Por exemplo: que aconteceu com a família que descobriu que o filho é gay? Como ficou o caso do contato que o bloqueou no msn? Isso desperta a curiosidade e dá uma aflição saber que ela não será satisfeita."

Antes de mais nada, nunca escondi a imensa alegria que sinto ao ler os comentários que vocês deixam aqui, sejam eles prós ou contra. Então meu amigo Moisés, obrigado pela visita e comentário (até tentei saber mais de você vendo seu perfil no Blogger, mas não estava disponível). Me senti lisonjeado também por dizer que escrevo bem. Particularmente não acho que tenha esse dom, escrever bem. Escrever um post para mim é um parto de elefante, com idas e vindas, escreve, deleta, pesquisa, apaga, pausa para a massa cinzenta se refazer, até que finalmente sai algo que meu rigoroso controle de qualidade aprove. Sempre com ressalvas. E tem outra - alguns blogs me proíbo de visitar antes de escrever algo, blogs como os dos mestres
Oz ou Poison , por exemplo. Se os leio antes de escrever, minha inspiração vai para o ralo ante a genialidade dos mestres. E ai só me resta ouvir Mozart para estimular a inteligência ou mergulhar nas crônicas de Drummond, Veríssimo ou Ubaldo para a inspiração voltar. Por isso, obrigado também pelo incentivo.

Agora sobre o que comentou, realmente existem muitas histórias que estão ainda inacabadas. Como a da
família que descobriu que o filho é gay . O rapaz está tentando viver “normalmente”, reprimindo com toneladas de culpa seu Hyde interior, seu desejo proibido, achando que vai conseguir mantê-lo sob controle. Espero que ele seja eficiente nisso. Ou não, sei lá. O fato é que decidi manter minha posição neutra diante do que ele está passando e não me envolver para preservar minha sanidade mental. Sim, por que se fizesse o que estava com vontade, dizer para ele que é uma luta em vão o que ele está tentando fazer, com certeza ele iria comentar com alguém sobre o que lhe aconselhei. Ai meus brothers, eu iria para o sétimo inferno de Dante! Sobre a outra história que comentou, a do contato que me bloqueou no MSN , depois que escrevi sobre ele no blog, não é que a criatura ressurgiu das trevas? Reapareceu no meu MSN como se nada tivesse acontecido! Até me passou o outro MSN (um que já sabia que existia) para que eu o adicionasse. Seguindo as dicas do manual de etiqueta da Glorinha Kalil, não o desprezei, não cobrei explicações, não dei pití. Convivemos civilizadamente no mundo virtual, trocando algumas palavras algumas vezes. Estou imunizado contra esse ser. Ou seja, essa história eu considero encerrada.

Mas existem muitas outras em aberto e outras começando. E também situações recorrentes na minha vida. Como a que aconteceu essa semana. Um novo episódio do tipo “fundo do poço”. Foi assim: numa dessas noites eu visitei alguns blogamigos e nesses blogs os brothers falavam sobre amizade, amigos e sobre a importância dessas pessoas em nossas vidas. Coincidentemente no fim de semana anterior um amigo virtual muito querido havia me contado que passou a noite na casa de amigos vendo muitos filmes e nessa noite que visitei os blogs, ele comentou que havia visitado um velho amigo. Pra quê!! Parece que meu subconsciente trabalhou a noite toda durante meu sono de tal forma que acordei sentindo um vazio monstruoso! Uma vontade de receber um abraço apertado, um afago, um carinho, uma palavra que só um amigo sabe dar. “Uê, você não tem amigos?” talvez diga. Que realmente me conheçam não. Pensei que tivesse, mas tenho conhecidos, pessoas que não sabem nem 10% do que sou. Tive até um que considerava meu irmão, mas que hoje nem liga para perguntar como estou. Queria um amigo que só de olhar me entendesse. E não tenho. Tenho muitos amigos virtuais que estão espalhados por esse mundo de Deus. Mas quero e preciso de amigos reais. Preciso do contato físico (sem conotação sexual ok?), do toque, do olhar, do peito para eu colocar minha cabeça, entende? “Preciso de oxigênio, preciso ter amigos, preciso de dinheiro, preciso de carinho”. Acordei assim. Para poder trabalhar e conviver com minha família, tive que pegar no meu estoque de máscaras, a máscara da felicidade e usá-la para não despertar suspeitas. Cara de feliz, mas por dentro desmoronando. Assim foi por uns três dias. O sentimento abrandou um pouco. Mas a vontade permanece. Amigos não são como comprar um lanche no McDonald’s, você escolhe e daí a instantes tem o pedido atendido. Demora. Precisa-se da convivência e da cumplicidade para se formar os laços e nós da amizade. Tudo bem, pode até começar no mundo virtual, mas uma hora tem de passar para o mundo real. E é ai que estou tendo dificuldades. Será que tem alguma coisa de errado comigo? Ou será que minha vida toda está errada? O que preciso fazer? Sugestões são bem vindas.

sábado, 25 de agosto de 2007

Felicidade


O que é essa tal felicidade? Onde encontrá-la? Qual loja, em qual shopping ela está à venda? Em qual seção do supermercado se compra esse item? Ou será que ela está disponível em comprimidos na farmácia da esquina? Já sei, ela está engarrafada e pronta para ser consumida nos bares da vida! Não??? Pode-se encontrá-la em seringas então? Também não?! Só pode estar em alguma conta bancária de algum paraíso fiscal numa ilha paradisíaca! Não né? Onde ela está então?
Pergunta de díficil resposta essa não? Será mesmo? Ou complicamos tanto as coisas que despercebemos o óbvio? Agimos como o avôzinho infeliz que procura por toda a parte os óculos, tendo-os na ponta do nariz! Procuramos a felicidade em vários lugares, em várias pessoas, em várias situações e ela ali, do nosso lado nos olhando com cara de espanto dizendo: “eu estou aqui!”. Condicionamos a felicidade. Agregamos muitas condições para obtê-la. Quando me formar; quando fizer pós; quando voltar a estudar; quando perder 10 kg; quando fizer academia; quando me separar; quando encontrar alguém; quando morar sozinho; quando tiver meu apartamento; quando tiver um carro novo; quando me mudar para perto dele; quando mudar de emprego; quando for gestor da minha área; quando tiver minha própria empresa; quando tiver um rendimento de 5 dígitos; quando ganhar na Megasena; quando terminar minhas dívidas. Quando, quando, quando. Esquecemos que, como ouvi um dia, a felicidade é uma viagem, não um destino. Vivemos como formigas num formigueiro, sempre atarefados correndo de um lado para outro, sacrificando relações pessoais e até nossa saúde buscando algo que muitas vezes nem sabemos o que é. Não aproveitamos nossa viagem. Não desfrutamos dos pequenos prazeres que essa viagem nos proporciona. Não reparamos nos detalhes. E eles fazem a diferença.
Por que essa reflexão? Essa semana aconteceu algo que me pôs a refletir. Algo banal, corriqueiro, mas que gerou em mim o desejo de falar sobre isso. No final do expediente em meu emprego, estava arrumando minhas coisas para ir embora. Trabalho no 3º andar. Olhei pela janela e vi. Uma bola vermelha me chamou a atenção. O astro rei, o sol estava se pondo. Lindo, maravilhoso, colorindo com tons de vermelho, amarelo e laranja o céu ao seu redor. Magestosa visão! O sol, alheio a qualquer vontade, mostrava toda sua beleza para quem quisesse ter o prazer de vê-lo. Olhei para baixo e as pessoas indiferentes diante desse espetáculo. Andando, correndo, apressadas feito formigas. Perdendo a chance de transformar o ordinário do dia-a-dia em extraordinário.
“O que faz você feliz? A lua, a praia, o mar. Uma rua, passear. Um doce, uma dança, um beijo. Ou goiabada com queijo? Afinal, o que faz você feliz? Chocolate, paixão, dormir cedo, acordar tarde. Arroz com feijão. Matar a saudade. O aumento, a casa, o carro que você sempre quis. Ou são os sonhos que te fazem feliz? Dormir na rede, matar a sede, ler ou viver um romance? O que faz você feliz? Um lápis, uma letra, uma conversa boa. Um cafuné, café com leite, rir a toa. Um pássaro, um parque, um chafariz. Ou será um choro que te faz feliz? A pausa para pensar. Sentir o vento, esquecer o tempo. O céu, o sol, um som. A pessoa ou o lugar? Agora me diz: o que faz você feliz?” Esse é o texto de uma propaganda institucional do Grupo Pão de Açucar, propaganda essa que achei muito bacana e que me lembrei durante essa reflexão. O texto é narrado por Arnaldo Antunes e com ela fecho esse post.

sábado, 11 de agosto de 2007

Cansaço


Cansado. Essa é uma palavra que define de forma exata como estou me sentindo. Mas não cansado da vida ou do blog. É cansaço físico mesmo, devido a estar trabalhando muito. Engraçada essa nossa vida né? Há alguns dias estava entediado por não fazer nada, enviando curriculum, esperando retorno que nunca vinha de entrevistas (e com tempo mais que de sobra para traquinagens virtuais e reais). Agora, cansado por trabalhar demais. Nem mal começei no novo emprego e meu banco de horas já está com uma quantidade interessante de horas. Antes assim. O problema de tudo isso é a falta de tempo e disposição para fazer algo que me acostumei, ou melhor, me viciei: escrever em meu blog, visitar blogs de amigos e papear pelo MSN. Já devem ter notado isso. Até tentei algumas vezes a noite visitar alguns blogamigos, mas o cansaço me domina e então caio nos braços de Morfeu. Não tem jeito. Quando passar essa fase inicial no meu emprego, de montagem de meu setor, as coisas se normalizam (espero!).

Não sumi não viu? E tampouco desisti do blog. Estou com muita saudade de vocês, de participar de uma certa forma de suas vidas por ler o que escrevem nos blogs. E compartilhar com vocês meus brothers, a minha vida também. Não quero nunca abandonar esse meu cantinho na blogaysfera. Por hora, vou terceirizar um pouco esse espaço para não passar totalmente em branco. Vou colocar um texto que recebi por email e me chamou a atenção. O que vocês acham, “homossexual” é adjetivo ou substantivo? Leiam o texto abaixo.

Não existem homossexuais

Não conheço homossexuais. Nem um para mostrar. Amigos meus dizem que existem. Outros dizem que são. Eu coço a cabeça e investigo: dois olhos, duas mãos, duas pernas. Um ser humano como outro qualquer. Mas eles recusam pertencer ao único gênero que interessa, o humano. E falam do "homossexual" como algumas crianças falam de fadas ou duendes. Mas os homossexuais existem?
A desconfiança deve ser atribuída a um insuspeito na matéria. Falo de Gore Vidal, que roubou o conceito a outro, Tennessee Williams: "homossexual" é adjetivo, não substantivo. Concordo, subscrevo. Não existe o "homossexual". Existem atos homossexuais. E atos heterossexuais. Eu próprio, confesso, sou culpado de praticar os segundos (menos do que gostaria, é certo). E parte da humanidade pratica os primeiros. Mas acreditar que um adjetivo se converte em substantivo é uma forma de moralismo pela via errada. É elevar o sexo a condição identitária. Sou como ser humano o que faço na minha cama. Aberrante, não?
Uns anos atrás, aliás, comprei brigas feias na imprensa portuguesa por afirmar o óbvio: ter orgulho da sexualidade é como ter orgulho da cor da pele. Ilógico. Se a orientação sexual é um fato tão natural como a pigmentação dermatológica, não há nada de que ter orgulho. Podemos sentir orgulho da carreira que fomos construindo: do livro que escrevemos, da música que compusemos. O orgulho pressupõe mérito. E o mérito pressupõe escolha. Na sexualidade, não há escolha.
Infelizmente, o mundo não concorda. Os homossexuais existem e, mais, existe uma forma de vida gay com sua literatura, sua arte. Seu cinema. O Festival de Veneza, por exemplo, pretende instituir um Leão Queer para o melhor filme gay em concurso. Não é caso único. Berlim já tem um prêmio semelhante há duas décadas. É o Teddy Award.
Estranho. Olhando para a história da arte ocidental, é possível divisar obras que versaram sobre o amor entre pessoas do mesmo sexo. A arte greco-latina surge dominada por essa pulsão homoerótica. Mas só um analfabeto fala em "arte grega gay" ou "arte romana gay". E desconfio que o imperador Adriano se sentiria abismado se as estátuas de Antínoo, que mandou espalhar por Roma, fossem classificadas como exemplares de "estatuária gay". A arte não tem gênero. Tem talento ou falta de.
E, já agora, tem bom senso ou falta de. Definir uma obra de arte pela orientação sexual dos personagens retratados não é apenas um caso de filistinismo cultural. É encerrar um quadro, um livro ou um filme no gueto ideológico das patrulhas. Exatamente como acontece com as próprias patrulhas, que transformam um fato natural em programa de exclusão. De auto-exclusão.
Eu, se fosse "homossexual", sentiria certa ofensa se reduzissem a minha personalidade à inclinação (simbólica) do meu pênis. Mas eu prometo perguntar a um "homossexual" verdadeiro o que ele pensa sobre o assunto, caso eu consiga encontrar um no planeta Terra.
JOÃO PEREIRA COUTINHO (Folha de São Paulo)
12 de Agosto de 2007, 11:00h
Fazendo uma atualização:
Depois que escrevi este post, recebi um video por email e ao invés de fazer outro post achei interessante colocá-lo aqui mesmo como, vamos dizer, homenagem aos pais.
A história do video é o seguinte: no final de 2006 uma escola na Holanda fez um 'festival de todas as artes' com o tema: "QUEM SÃO PAPAI E MAMÃE?" E permitiu que a criançada soltasse o verbo sem censura... Este vídeo é do menino vencedor do festival...

domingo, 29 de julho de 2007

Resiliência

Voltando as aulas de física. Resiliência é a propriedade que alguns materiais tem de superar uma pressão, voltando ao seu estado original sem ser alterado. Ou seja, ele recupera-se ou adapta-se rapidamente. Um exemplo, a espuma que recebendo uma pressão se deforma e terminada a pressão volta ao seu estado original. Esse termo também é usado no dia-a-dia para descrever a capacidade que as pessoas tem de, diante de um problema, uma situação adversa, se recuperar e, como dizem, dar a volta por cima tirando proveito do sofrimento ou da situação adversa. Você é resiliente? Ou é um “homem de vidro”, que quando recebe uma chapoletada da vida se quebra em mil pedaços?

Fazendo um restrospecto, acho que sou resiliente. Aliás, a minha resiliência vêm sendo testada muito nesses últimos meses. Há um ano átras, pensava estar seguro em um bom emprego, embora não trabalhasse em repartição pública ou orgão do governo. Nesse ano, inesperadamente perdi o emprego. Alegação para demissão: corte de custos (não dá para competir com os filhos do patrão!). Fiquei durante uns 2 dias sem chão ou horizonte. Me senti o substrato do pó do peido do cavalo do bandido (é assim mesmo que escreve Latinha?). Até que decidi mudar minha vida, deixar de ser o coitadinho que é digno da pena. Esse abalo que tive, rachou de vez a represa que segurava meus desejos secretos. Parece não ter nada a ver uma coisa com a outra né? Mas tem. Cansei de tentar agir seguindo um determinado padrão e só levar na cabeça. Decidi explorar, conhecer, experimentar o “proibido”. Aproveitar mais a vida, não ser tão certinho sempre. Não querendo dizer com isso que iria agir de maneira desonesta ou desleal. Ai já seria mudança de caráter, o que não aconteceu. Mudei apenas meu ponto de vista sobre um assunto. Ou seja, de uma situação aparentemente desfavorável eu tirei lições e corrigi algumas coisas. E agora aqui estou eu me preparando para uma nova situação, um novo emprego, na qual minha resiliência vai ser primordial para começar de novo, em um novo desafio. Começando de baixo de novo. Nessa montanha russa que é nossa vida, achava que estava numa subida, mas inesperadamente desci e agora começo uma nova subida.

Se formos parar para analisar, tudo ou quase tudo na vida é uma questão de ponto de vista. Mesmo nas piores situações, podemos tirar algo de bom. No começo, no auge da tempestade, talvez não vejamos nada de bom. Mas depois de passar a tormenta, encontramos as plantas que resistiram a tempestade pela sua flexibilidade. Não dá para viver isento de problemas. É como disse Michael Jansen: “A felicidade não é a ausência de problemas. A ausência de problemas é o tédio. A felicidade são grandes problemas bem administrados.” Porisso, não adianta bater de frente com as dificuldades e problemas e ser destruido por eles. É preciso ter o ponto de vista correto sobre eles. Isso sim faz a diferença. Tem uma poesia do Drummond que fala exatamente sobre isso. Faz tempo que não coloco uma aqui né? Então com vocês e para vocês, Carlos Drummond de Andrade:

"Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional."

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Exílio


Ufa!!! Voltei! Fiquei um pouco sumido daqui. Alguns problemas domésticos me forçaram a ficar fora desse mundo virtual durante alguns dias. E depois, para ajudar, o meu pc foi para o “estaleiro” (por que será que esse pessoal de informática promete as coisas para um dia e entrega 2 dias depois?). Esses dias que estive fora da blogaysfera aconteceram algumas coisas no mundo real que quero compartilhar com vocês, meus companheiros de jornada. Vamos lá:

Depois de alguns meses fazendo parte dos que são beneficiados com o seguro-desemprego, finalmente surge uma oportunidade real de emprego. Ainda não assinei contrato, mas já foi confirmada minha contratação. Estou sentindo como se estivessem tirando um peso de cima de mim. Olha, não é a toa que dizem que ficar desempregado é uma das situações mais estressantes que um homem pode enfrentar! Espero não ter que passar por isso de novo. Não tenho definição ainda de meus horários de trabalho. Se sumir de novo, já sabem qual será o motivo agora. Pelo menos até eu sentar e redesenhar minha rotina.

Outra coisa aconteceu e essa me deixou muito pensativo. Já disse aqui que vivo em um mundo extremamente homofóbico. Mas mesmo nessa situação, percebi em alguns dos quem convivo que são da irmandade. Meu gaydar acendia a luz rosa quando os observava com um pouco mais de atenção. Pois bem, esses dias atrás estava eu assistindo tv quando o telefone toca. Quando atendi me assustei. Do outro lado uma amiga aos prantos me pedia que fosse até a casa dela. Tentei saber o que estava acontecendo, mas ela pediu que fosse até lá. E lá fui eu. Quando cheguei, a situação que vi me lembrou esses episódios de trágedia, onde os parentes se desesperam com a morte trágica de alguém querido. Ela, o marido e o filho aos prantos. O motivo? Existia uma desconfiança nossa (minha e de outros amigos) de que o filho do casal, um rapaz de 17 anos, que tinha um modo meio, digamos, delicado, fosse da irmandade. Surgiu uma suspeita de que ele havia entrado em salas de bate-papo gay usando um pc de um outro amigo nosso (ele deixou rastros na máquina!). Os pais o confrontaram para saber se era verdade. Ele não só confessou que tinha entrado em salas de bate-papo como também que tinha saído com vários caras. Esse era o motivo da choradeira que vi. Algumas frases que escutei lá: “ele acabou com nossa vida!”, “eu dava tudo pra ele, porque fez isso, onde eu errei?”, “eu estraguei a vida de meus pais, mas eu quero mudar, não vou fazer mais isso”. Imaginaram a cena? E eu lá no meio. Justo eu! É redundância dizer que fiquei atônito, paralisado, sem saber o que falar ou fazer. Fiz o que achei mais urgente, tentai acalmar o povo, fazer a razão voltar a imperar.

A situação teve alguns desdobramentos que não convém dizer aqui, mas tudo isso me fez refletir um pouco. Primeiro, por que essa reação exagerada, como se alguém fosse morto tragicamente? É sempre assim que acontece quando se revela que temos simplesmente uma atração por homens? Será que é assim que ocorreria se eu revelasse o que sinto e o que já fiz? Me dá medo em pensar nisso. Mas eu sei que estou sujeito a isso. Tudo isso só reforçou o que penso sobre como devo lidar com essa situação e que já falei aqui: continuar com meu “outting” homeopático. Essa situação também me deixou um pouco constrangido. Sim, porque me vi refletido no rapaz, no sofrimento que ele deve estar passando, no pensamento de que é possivel mudar o que se sente, quando não é possível isso. Queria poder ter dito a ele que isso não é o fim do mundo, que não tem como se “curar”, que ele não é um doente por ter essa atração. Mas não podia fazer nada disso sem me expor. É horrivel esse sentimento de impotência, de querer ajudar mas não poder. Esse é um dos tributos que pago pela escolha que fiz. Fazer o que!

Para terminar, coloquei o video de uma música que curto muito, “Fake Plastic Trees” do Radiohead. Já tinha esquecido dela (ela é de 1995), mas nesses dias que estava exilado do mundo virtual, em um programa de clips na TV, a ouvi de novo. Ela foi anunciada como a “melancólica música do Radiohead”. E não é que bateu com o que eu estava sentindo?



segunda-feira, 9 de julho de 2007

Virtual


No principio, era a empolgação. Um admirável (e virtual) mundo novo, onde máscaras não existiam. Um lugar onde não importava se eu era branco, negro, amarelo, azul ou rosa. Não importava se era gordo, magro ou malhado. Podia ser eu mesmo. Podia conversar com outros da mesma espécie. Mostrei minha alma, minha essência. Vi almas alheias. Fiz amigos. Cúmplices. Desabafei. Chorei. Ri. Me emocionei com histórias de amor vividas por outros. Aqui criei coragem e saí do virtual e no mundo real realizei desejos há muito reprimidos. Extrapolei limites. Experimentei novas sensações.

Mas esse mundo tem seu “dark side”. E ele se manifesta algumas vezes. Me sinto isolado as vezes. Sabe quando você está numa roda de amigos e ninguém conversa com você? Talvez isso seja minha carência se manifestando. Como filho único, sempre tive essa necessidade de receber aprovação e atenção. Mas o que mais me incomoda nesse mundo virtual é não poder olhar nos olhos daqueles com quem converso e captar suas reações. Não consigo discernir se falam a verdade ou não, se estão sendo sinceros ou não. Recentemente passei por uma situação com um certo alguém que ilustra isso.

O conheci pelo Manhunt. Ou melhor, ele me contatou. Seus olhos logo me chamaram a atenção (duas coisas me chamam a atenção logo de cara em um homem: os olhos e, como um bom brasileiro, a bunda). Eram de um verde fascinante. O adicionei como um de meus contatos no MSN e teclamos algumas vezes. Quando percebi, estava fascinado por ele. E ele correspondia. Só havia um detalhe: 450 km nos separavam. Um estado inteiro entre nós. Fui aconselhado por uns amigos blogueiros a “sair dessa antes que seja tarde”. Não ouvi o conselho. Fizemos planos para ele vir aqui ou eu ir até ele. Enquanto isso não se realizava, nos víamos pela web cam. Me mandou fotos suas, músicas e conversamos pelo telefone. Até fui questionado se queria ser seu namorado (achei melhor conversar sobre isso pessoalmente e não pelo MSN). E conversávamos sempre que ele podia. Um dia não o vi on line. O dia seguinte também. E o outro. O que aconteceu? Um pensamento negro surgiu na minha mente. Será? Fui bloqueado? Para acabar com a dúvida, decidi bancar o detetive. Ele estava off line. O adicionei em um outro MSN que tenho. Logo em seguida ele aceitou. Estava on line! Perguntou quem eu era. Meu coração acelerou, minhas mãos tremiam, um nó na garganta me sufocava. O que aconteceu? Revelei quem eu era e perguntei: “Vc me bloqueou? Pq?”. “Não. Deixa eu ver. Ue, vc sumiu dos meus contatos, acho que apaguei sem querer” (!!!!??). “Pq fez isso?” continuei questionando. Ele, gaguejou, tentou explicar. Renovou promessas e eu . . . eu acreditei. Por que algumas vezes pensamos com o coração e não com o cérebro? Continuamos a conversar outros dias. Até que tudo se repetiu. Ele off line por dias seguidos. Eu com o coração apertado. Novamente o detetive Bob atuou e descobriu que ele estava on line. Chega! Por que agir assim? Por que não dizer que não queria mais nada? Uma razão apenas.

Episódios como esse, revelam o lado negro do mundo virtual. Afinal ele, o mundo virtual, tem como origem pessoas, com suas falhas e vícios. Mas também suas virtudes. Pessoas confusas e inseguras habitam-no. Mas também, pessoas sinceras e verdadeiras. E essas fazem valer a pena continuar aqui. Como um certo cara, que venho conversando a algumas semanas e que também conheci em um site de relacionamentos (o disponível). Ele também não mora aqui em minha cidade, mas mora a 66 km daqui (bem mais perto que o outro!). Não é blogueiro (ainda). Converso com ele praticamente todos os dias e quanto prazer isso me dá! Tenho por ele um carinho especial, coisa de amigo, vamos deixar claro. Ele me alegra, me faz dar gargalhadas, me emociona às vezes. Tem uma alma linda! Nesse mês vamos nos conhecer pessoalmente e espero que com isso possamos sacramentar nossa amizade. Tem também meus amigos blogayros, que alegram minha existência no mundo virtual. Enfim, pessoas que anulam qualquer péssima experiência com os dissimulados do mundo virtual.

Mas essas péssimas experiências tem o seu lado positivo. Thomas Edison no processo de invenção da lâmpada elétrica, tentou e falhou muitas vezes, alguns falam em mais de 1.000 tentativas fracassadas! Conta-se que alguém perguntou a Edison se ele, desanimado por todos os seus fracassos, não pensou em desistir. E ele respondeu: “Aqueles foram passos do caminho. Em cada tentativa, eu encontrava um modo de não criar a lâmpada elétrica. Eu estava sempre disposto a aprender, mesmo através dos meus erros”. Ele descobriu mais de 1.000 maneiras de não criar um lâmpada. Assim também, eu aprendi uma maneira de não agir no mundo virtual.

sábado, 30 de junho de 2007

Preconceito


“Quem não deve não teme. . . Conheço a família dele, sua índole e seu caráter há 11 anos, desde que ele começou a jogar.” Essas palavras foram ditas por Julio Fressato, empresário do jogador de futebol Richarlyson, comentando uma afirmação feita por um diretor do Palmeiras no programa Bate Bola da Record. O imbróglio todo foi o seguinte: esse diretor, José Cyrillo Jr., quando indagado no programa sobre quem seria o jogador que estaria negociando assumir sua homossexualidade no Fantástico da Rede Globo, citou o nome do jogador Richarlyson (se quiser ver o vídeo dessa gafe do diretor do Palmeiras, clique aqui). Mas o fato é que, bastou essa afirmação para desencadear mais uma onda de preconceito, machismo e frases infelizes contra os gays. Por exemplo, a declaração do empresário do jogador. Pela ótica dele, os gays não tem índole e nem caráter. Somos um bando de pervertidos, é isso? Tudo bem, existem alguns homens gays que tem o lema “demais nunca é bastante”. Mas isso é um comportamento que não é exclusivo dos gays. Homens héteros também agem assim. Isso é um comportamento do homem, independente de orientação sexual. A mãe do jogador também saiu em defesa do filho, dizendo: “Eu sei que ele não é, não precisa mostrar nada para ninguém. . . Ele é um menino muito amável”. Também numa suposta página do jogador no Orkut, o rapaz foi chamado perjorativamente de “seu boiola”, “viadinho” e “bambi”. Qual o motivo de toda essa homofobia? Se ele é ou não gay é um assunto que diz respeito apenas a ele. Mas se ele ou outro jogador qualquer for gay e assumir isso publicamente, esse ato se torna uma heresia. Por que? Será que por assumir sua orientação sexual o atleta perde suas habilidades? É claro que não! Ou será que por ser uma figura de destaque na mídia ele passa a influenciar negativamente os jovens com seu comportamento “bizarro”? Absurdo isso! Seria sim uma atitude de coragem, porque o futebol é um reduto machista por excelência. Seria uma quebra de paradigma interessante essa. Ou vai me dizer que no futebol não existem jogadores gays camuflados? Segundo alguns estudos, 10% da população é gay, então entre 11 jogadores de um time em campo, estatisticamente falando 1 é gay.

Na realidade se usam situações como essa para exercitar o preconceito que existe contra aqueles que são diferentes. Se tenta mostrar que ser homossexual é negativo e depreciador. Me cansa isso. Já é díficil viver nas sombras e não poder ser o que realmente sou. Mas, como aquele sujeito que está remando contra a correnteza sabe muito bem, se pararmos de avançar a correnteza nos leva. Então brothers, vamos continuar a remar contra a correnteza do preconceito! Nem que for para avançar poucos milimetros. Quem disse que grandes mudanças ocorrem assim, de uma hora para outra. Não, não é assim. Darwin nos ensinou que a evolução é lenta e gradual. Aos poucos esses preconceitos são derrubados. Mas como é difícil isso! Albert Einstein já dizia: “Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.”

terça-feira, 26 de junho de 2007

Instantâneo


Estava pensando em como nós estamos em constante evolução. Somos verdadeiros mutantes: o que éramos ontem é diferente do que somos hoje, que por sua vez será diferente do que seremos amanhã. Lembro de como era um tempo atrás e como estou diferente agora em vários aspectos. Muitas coisas que acreditava, não acredito mais. Coisas que não gostava, passei a gostar. Atos que jurava que nunca iria fazer, fiz, repeti e gostei. O blog mesmo é um registro dessa mudança. As vezes leio posts antigos e penso: “como fui escrever isso?”, “que coisa ridícula!”. Mas, embora tenha vontade de apagar, deixo lá como um registro de minha evolução.

Por isso, acho interessantes esses desafios que pipocam pelos blogs. Como o que o Luiz Pep me convocou a responder. Eles servem como um registro instantâneo do que somos ou pensamos. Um registro para depois lamentarmos ter escrito ou darmos boas gargalhadas. Então, com vocês minhas respostas ao desafio do sete:

Sete coisas que não faço:
Praticar pára-quedismo (tenho pavor de altura), fumar, dirigir moto, me drogar, urinar em mijadouros de banheiros públicos (já tentei, trava o canal e não sai nada), comer jaca e me atrasar para compromissos.

Sete coisas que me encantam:
Um céu estrelado, a gargalhada de um bebê, a imensidão do mar, uma longa e duradoura amizade, um concerto ao vivo, uma história bem contada e, claro, o corpo masculino.

Sete coisas que odeio:
Ser desprezado, política, preconceito (seja ele qual for), escorpião, violência (verbal ou física), o tédio e filas.

Bom, eu teria que passar esse desafio para outros. Mas vou contrariar a regra. Quem quiser responder ao desafio, sinta-se desafiado.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

O Pinto


Acho que foi no final do ano passado que li uma nota, na qual o cantor Enrique Iglesias admitiu que tem um pênis pequeno e que até iria lançar uma linha de camisinhas para homens como ele, portadores de pênis pequeno. Foi corajoso o rapaz. Sim, porque esse assunto, o tamanho do pau, é uma assunto que desperta controvérsias entre nós, machos da espécie. Desde pequeno existe aquela brincadeira de ficar comparando o tamanho do pipi para ver quem tem o maior. Quando o cara cresce a coisa continua. Vai me dizer que nunca deu uma espichada de olho quando vai urinar em um banheiro público para conferir o tamanho do cacete do cara ao lado? Ou no vestiário da academia ou clube, lança aquele olhar de relance para o bilau alheio? É uma preocupação generalizada com o tamanho da espada. Isso é tão sério que até pesquisas fizeram. Urologistas ingleses mediram 11.500 caralhos e concluíram que metade dos homens consideram seu amigão pequeno (se algum pesquisador brasileiro quiser fazer essa pesquisa aqui, me ofereço como voluntário para aferir o documento do homem brasileiro e até dou uma sugestão: confiram também o tamanho do dito cujo em estado de alerta, não apenas em estado de dormência, hehe). Mas qual o tamanho de falo pode ser considerado pequeno? Dizem que se o bráulio tiver 7cm ou menos quando duro é considerado micro-pênis. A média de tamanho é entre 14 a 16 cm ereto.

Mas por quê essa preocupação excessiva com o tamanho do ferrão? Será que o tamanho é o mais importante numa transa? Será que ter uma tromba de elefante entre as pernas é garantia de uma transa satisfatória? Eu acho que não. Aliás acho até um problema. Imagine o estrago que isso causa. Isso sem falar que o possante está sempre perdendo para a lei da gravidade, sempre apontando pra baixo (por causa do tamanho, haja sangue para botar isso de pé!) quando deveria apontar para o céu. É uma preocupação até irritante essa. Quando estou em algum chat, sempre surge aquela pergunta: “quanto mede?” Minha resposta invariavelmente é: “não sei, nunca medi, deve ter uns 16, 17”. Para que essa preocupação?

Quando estava na fase de desejo gay contido, vi vários exemplares da fauna peniana em sites e revistas. Agora, do alto dos meus três meses de experiência prática, tendo visto ao vivo e via MSN vários exemplares da fauna peniana, posso garantir que não importa o tamanho da varinha, mas sim como você a usa para fazer a mágica (frasezinha clichê essa hein?). Prefiro muito mais a exploração sensorial que antecede a ação propriamente dita do instrumento de prazer. Àquela hora em que os cinco sentidos atuam: o tato, sentindo a textura da pele, dos pêlos, o calor do corpo, o toque ora suave ora firme; o olfato, cheirando o corpo, aquele perfume estrategicamente colocado, o aroma de prazer no ar; o paladar, os lábios e a língua explorando não só a boca mas todo o corpo e especialmente a área onde a rola vive e adjacências; a audição, ouvindo aquelas frases que incendeiam a imaginação ou um gemido de excitação e prazer; e finalmente a visão, o olhos captando imagens que alimentam o desejo. Vai me dizer que você não curte isso? Não quero dizer com isso que não goste da fase da penetração. Não me entenda mal. Mas é que a transa é um conjunto formado de vários elementos. Só que alguns, com essa síndrome do pinto pequeno, acabam estragando isso, focando demais em algo que deveria fazer parte do conjunto. E acabam frustrados por isso. E você? Está satisfeito com o tamanho de sua vara?


p.s. – se quiserem ver uma lista interessante de nomes alternativos dados para o pênis cliquem aqui. Eu tirei alguns nomes daí para escrever esse post. Tem cada um!!
Outra coisa. Recebi um convite do Luiz Pep para participar de outra brincadeira como aquela do “se eu fosse. . .”. Eu ia colocar neste post as respostas, mas achei melhor não, senão ficaria muito grande. Luiz, no próximo post eu respondo, ok?

sábado, 9 de junho de 2007

Beijo


Contaminado pelo clima de “love is in the air” que paira em alguns blogs, bem como pela proximidade do dia dos namorados, me inspirei para escrever sobre algo que é uma unanimidade: o beijo. Um ato de entrega, não com os lábios, mas com o coração e que nunca deve ser dado com olhos abertos porque essa é a forma mais cega de beijar. Um segredo contado entre silêncios. Ele é a menor distância entre os apaixonados. É um procedimento inteligentemente desenvolvido para a interrupção mútua da fala quando as palavras tornam-se desnecessárias. Sim, ele é uma forma de diálogo. Não mata a fome, mas abre o apetite. Ele pode determinar se um simples encontro se transformará em um relacionamento. É também o termômetro de uma relação. Se não existir mais na vida a dois, o relacionamento não existe mais, é apenas uma convivência e a relação precisa ser reavaliada. E a sabedoria popular nos diz que é como o ferro elétrico: liga em cima e esquenta embaixo. Pode não ser muito higiênico, mas é a mais deliciosa maneira de se conseguir uns germes! Essas foram algumas frases que encontrei sobre o beijo. E achei algumas coisas interessantes sobre o beijo também.

Alguns fatos históricos sobre o beijo. Os chineses o consideravam a primeira “onda do amor”, a primeira manifestação entre duas pessoas que desejam se amar. Eles afirmavam que o beijo seria fundamental para que “a barca do amor carnal deslize sobre rios de voluptuosidade”. Os romanos tinham 3 tipos de beijos: o basium, trocado entre conhecidos; o osculum, dado apenas em amigos íntimos; e o suavium, que era o beijo dos amantes. Na linguagem dos esquimós, a palavra que designa beijar é a mesma que serve para dizer cheirar. Por isso, no chamado "beijo de esquimó", eles esfregam os narizes. No Nordeste brasileiro, também se usa a palavra "cheiro" no lugar de "beijo". Em 1920 foi criada a expressão beijo francês, aquele em que as línguas se entrelaçam, o beijo de lingua. O livro Kama Sutra - escrito entre os anos 100 e 400 D.C.- já valorizava diversas formas de beijar, como o 'Beijo de virar a cabeça' que é o beijo que se dá em seu parceiro quando ele está ocupado com algo que está lhe preocupando, de modo a afastar a tensão da mente dele e trazer pensamentos de amor. Ainda segundo o Kama Sutra, a maior parte do corpo reage ao beijo, por isso, quanto mais próximo é o beijo dos órgãos sexuais, mais intenso é o prazer. A intensidade do beijo varia de acordo com o local do corpo em que é aplicado e pode ser moderado, pressionado ou suave. Para os árabes, o beijo durante o ato sexual é indispensável. Segundo eles o melhor beijo é aquele dado com a boca umedecida e combinado com a sucção dos lábios e da língua. Nesse tipo de beijo a língua deve ser suavemente mordiscada. O indiano Ananga Ranga -livro semelhante ao Kama Sutra- recomenda que certos tipos de beijos devem fazer parte da fase inicial das preliminares como o: No Ghatika, beijo na nuca; No Uttaroshtha, beijo no lábio superior e Pratibodha, beijo do despertar, onde um dos parceiros, ao encontrar o outro dormindo encosta os lábios no outro, aumentando a pressão até que ele acorde. Ufa! Não deu uma vontade doida de beijar?

Agora alguns fatos biológicos sobre o beijo. Uma explicação científica para as sensações agradáveis que o beijo proporciona: durante o beijo são liberados neurotransmissores - substâncias químicas que transmitem mensagens ao corpo - provocando um estado de leveza física e emocional. Quando duas pessoas se beijam, a hipófise, o tálamo e o hipotálamo trabalham juntos na liberação dessas substâncias. Durante um beijo são mobilizados 29 músculos, sendo 17 linguais. Os batimentos cardíacos podem aumentam de 70 para 150, melhorando a oxigenação do sangue, o que mostra que o beijo tem também benefícios para o coração. O beijo queima calorias. Acredita-se que um beijo caprichado consuma cerca de 12 calorias Mas há um detalhe, no beijo há uma considerável troca de substâncias, 9 miligramas de água, 0,7 decigramas de albumina, 0,8 miligramas de matérias gordurosas, 0,5 miligramas de sais minerais, sem falar em outras 18 substâncias orgânicas, cerca de 250 bactérias, e uma grande quantidade de vírus. Mas quem pensa nisso na hora do beijo?

Sabia que existem algumas técnicas para beijar? Dicas que o tornam ainda mais gostoso? Por exemplo, alterne os beijos com e sem língua, para que sejam sensuais e sexuais ao mesmo tempo. Os beijos "sem língua" não devem se limitar a lábios contra lábios: brinque com eles, prenda um dos lábios de seu parceiro com os seus, beije-o, passe-o por todo seu rosto, suas bochechas, sua testa, suas pálpebras. Introduza a língua na boca de seu parceiro e mordisque com suavidade seus lábios, pressionando um pouco, de modo que o beijo se transforme em uma leve mordida. Recorra o interior da boca com a língua, introduza-a no espaço onde o lábio superior se une com as gengivas e acaricie-as. Isto produz cosquinhas excitantes. Explore este espaço onde se unem as gengivas e o lábio inferior. Aventure-se e explore os pontos mais sensíveis do corpo do parceiro. Durante o beijo, aproveite para acariciar as mãos, os cabelos, as costas, ou segure o rosto dele em suas mãos. Faça do beijo um acontecimento único.

Chega né? A vontade de beijar está insuportável? Então brother, beije muuuuito. Daqueles de tirar o fôlego, que te faz esquecer que o mundo existe. Se o objeto de sua paixão estiver aí ao seu lado agora, dê-lhe um beijo bem dado (aplique as técnicas descritas acima). Se não estiver, a próxima vez que o ver agarre-o, sem se importar onde estiver e beije-o. Se não tiver ninguém habitando seu coração atualmente, desculpe-me pela vontade que te fiz passar. Não desanime, logo você encontra alguém para matar sua vontade. Enquanto isso, curta um clip com algumas belas imagens de beijos do filme Brokeback Mountain. Esse clip vai como minha singela homenagem aos apaixonados de plantão!


sábado, 2 de junho de 2007

( . . . )


Achou estranho o título deste post? Ele descreve bem meus últimos dias: falta de inspiração, falta de motivação, um vazio interno. A vida é cíclica e vejo que estou novamente em uma fase introspectiva. Pensando na minha vida. Não com arrependimento pelos passos que dei. Mas olhando para o futuro, tentanto ver algo que não consigo discernir. Talvez algumas coisas tenham colaborado para estar assim. Primeiro, a tempestade que minha intuição previu se abater sobre mim, não veio (se é que existiu). Fiquei sentado no chão, olhando para o horizonte, vendo as nuvens se formarem. Deitei na terra, sentindo com minhas mãos e pés a matéria de onde viemos, nossa essência. Braços abertos, receptivos ao que viesse, fossem raios ou granizo. Fechei os olhos, sentindo o vento trazendo mudança. Senti os pingos em meu rosto, em minhas mãos, em meu corpo. Era a chuva e não a tempestade. As gotas da chuva atiçaram meus sentidos, lavaram minha alma. Mas, trouxeram lembranças de um passado recente quando vivia recluso. Isso trouxe o vazio. Consegui fazer parte do que tinha rascunhado fazer. Numa comparação, pretendia voltar 100m, mas voltei 50m. Tudo bem, voltei menos do que pretendia, mas voltei. Dei início ao processo de retorno.

Também fiquei um pouco cansado de viver com máscara, escondendo minha verdadeira face daqueles que acham que me conhecem. “Oras, tire a máscara então! Não seja covarde, assuma o que realmente é!” Seria tão bom se fosse tão fácil assim. Mas, é possível isso? Viver sem máscara? Sem nenhuma máscara social? Não seria isso uma utopia? Vamos a uma situação. Você está almoçando na casa de sua mãe (comida de mãe sempre é bom). Mas ela exagerou o sal no feijão. E diz: “Ai filho, acho que salguei o feijão”. Você então coloca a máscara de filho compreensivo e diz: “Que isso mãe, está uma delicia!”. Outra situação. Você marca de sair com a pessoa amada. Sai de casa para encontrá-la quando o celular toca. “Não vai dar certo, aconteceu um imprevisto”. Decepcionante não? Mas você coloca a máscara de homem apaixonado e diz: “Tudo bem amor, a gente sai outro dia”. E existem muitas outras situações assim. Nossa vida é viver com máscaras sociais, maiores ou menores. Queremos ser aceitos por outros e para que isso aconteça escondemos o que não gostamos em nós. Por isso vivemos encenando papéis: o filho compreensivo, o homem apaixonado, o amigo fiel, o funcionário dedicado, o vizinho camarada, o homem hétero. “Eu não sou assim, o que tem que falar eu falo, o que tem que mostrar eu mostro”. Então meu brother, você é uma raríssima exceção. E pode ter certeza que os que convivem com você, necessitam de muitas máscaras para conviver pacificamente contigo. Você é como o personagem de ficção Salgado, o Super Sincero, que Luiz Fernando Guimarães encena aos domingos no Fantástico. Que cara mala! Sem alças, sem rodinha, grande e pesada!
As máscaras são necessárias então, nesse teatro que é a nossa vida. Mas algumas vezes são pesadas demais! Que outra solução há? Aceito sugestões. É meus brothers, essa nossa vida é phoda (com ph mesmo!).

Para terminar, olha como a vida é engraçada. Estava me sentindo como descrevi no primeiro parágrafo deste post quando me reencontrei com uma música que havia conhecido um tempo átras no blog de um brother. A música “Chasing Cars” do Snow Patrol. Pois não é que o clip dela é exatamente como estava me sentindo. Se quiser comprovar ele está aí embaixo.

“If I lay here
If I just lay here
Would you lay with me and just forget the world?”



quinta-feira, 24 de maio de 2007

Amizade


Vínicius de Moraes escreveu certa vez: “E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ...”. O poetinha foi certeiro nas palavras. O que seria de nós sem os amigos? Muitos confundem amigo com colega. Chamam de amigo a pessoa que conheceu a poucas horas. Mas amizade subentende passar tempo juntos, ter coisas em comum, conversar, rir junto, chorar junto, fazer confidências, ouvir confidências. Amigos são aqueles que tem acesso exclusivo ao nosso interior. Aqueles que sabem só nos olhando ou conversando um pouco, como estamos por dentro. Amigos são, parafraseando palavras do poetinha, “indispensáveis ao nosso equilíbrio vital, porque fazem parte do mundo que nós, trêmulamente construímos, e se tornaram alicerces de nossa vida. Se um deles morrer, ficaremos tortos para um lado. Se todos eles morrerem, desabamos!” E a idade ou a diferença de idade não é um dos pré-requisitos para se fazer amizade.
Amigos são o nosso espelho crítico. É difícil aceitar críticas de parentes, do chefe, do professor ou de colegas. Mas quando um amigo nos diz verdades a nosso respeito costumamos aceitar com mais facilidade. Estou escrevendo tudo isso porque passei por isso nesta semana. Estava trilhando um caminho que só Deus sabe onde iria acabar. Estava agindo por puro instinto sexual, alimentado pela frustração de uma rejeição e por uma necessidade de auto-afirmação. Por conta disso acabei me inscrevendo nesses sites de relacionamento, onde você coloca seu perfil e fotos e sai a caça de homem para sexo e eventualmente uma amizade. Aprendi na prática a regra do jogo. Você conheceu anteontem um cara. Teclou alguns minutos ontem. Hoje se encontrou com ele. Amanhã você não o vê mais on line. Depois de amanhã descobre que seu MSN foi bloqueado por ele. Sexo por sexo. Simples assim, sem envolvimento algum. Não que nesses sites você não encontre pessoas sinceras, querendo um relacionamento de amizade. Encontra. Mas é a exceção, a regra é o relacionamento carnal, sexual. Então, comecei a jogar de acordo com as regras do jogo. Até que um amigo me nocauteou: “Você não é assim. Quando te conheci vc não era assim. Isso é perigoso. Não concordo com essa sua atitude”. Me conectei a realidade novamente. Não sou mesmo assim. Quero a cumplicidade de uma amizade, que pode ter nuances e ser colorida, quente e arrebatadora. Mas que também pode transcender o carnal e ser etérea. A amizade assume várias formas e pode ser rotulada de várias maneiras. Mas em todas existe o relacionamento e a cumplicidade. É isso que procuro. Mas não era isso que estava fazendo. Estava agindo como um predador, procurando por um pedaço de carne para devorar rapidamente. Precisei corrigir meu caminho. Ter mais paciência para pelo menos saber com quem estou me relacionando. Tudo isso desencadeado pelos comentários de um amigo.
Amigo, você é o cara. O Cara Imperfeito.

domingo, 20 de maio de 2007

Intuição


Você já deve ter visto ou vivido isso: alguém está de viagem marcada e na última hora decide não ir. Uma inexplicável preguiça toma conta dela e não vai. Descobre depois que, se tivesse viajado, não estaria viva porque o avião ou ônibus sofreu um acidente e ninguém sobreviveu ou a casa onde ia ficar pegou fogo. Já teve esses avisos intuitivos do inconsciente de que alguma coisa importante irá acontecer? Algumas vezes eu tenho isso. Uma intuição, um sexto sentido, um insight, um estalo, um pressentimento (ou outro termo que queira chamar isso) como que me alertando para algo que está para acontecer. E as vezes isso me assusta. Por exemplo, um tempo átras estava mudando de emprego e havia feito uma entrevista. Estava em casa aguardando a resposta. Olhei para o telefone e imaginei a pessoa pegando o telefone e discando meu número. Daí a pouco o telefone toca e quem era? A pessoa que imaginei, para falar comigo sobre a entrevista. Seria eu um mutante? Um novo aluno para o professor Xavier?

Deixando a brincadeira de lado, eu citei isso por que tive um pressentimento de que algo está para acontecer nesses próximos dias. Em abril escrevi um post e mencionei um rascunho de como pretendo ir resolvendo vários assuntos na minha vida. No fim deste mês vou começar a dar um rumo para um assunto que me incomoda muito: religião. Mas minha intuição me diz que as coisas não vão correr como eu planejei. Acho que meu subconsciente está interpretando fatos, sensações e observações que minha consciência não vê e está me alertando sobre isso para me preparar para aquilo que eu não queria que acontecesse. Não gosto quando as coisas fogem do meu controle, quando não posso direcionar a situação para onde quero. Talvez vocês não estejam entendendo bem o que escrevo, mas não posso ainda dar detalhes sobre essa situação que vivo. Mais à frente pretendo explicar em detalhes isso. Mas, o fato é que sinto cheiro de tempestade se aproximando! Espero que inesperados ventos fortes dissipem as nuvens da tempestade. Torçam por mim!

Uma última observação. Fiquei muito feliz com os comentários de meu último post. Queria agradecer a todos que visitam meu blog e especialmente aos que deixam um comentário. Adoro ler suas palavras e procuro aprender um pouco com elas. Foxx, Oz, Viajante Interdimensional, Luiz Pep, Cara Imperfeito, Kaike, Segredo, Carioca, Tin Man, Garoto Anacrônico, Bofiscândalo, Hairy Bear, PH, Poison, Aventura e Sampa, amigos que sempre visitam meu blog, obrigado! Também: Eu, Morgaine (a presença feminina é sempre bem-vinda, comente sempre minha amiga), Hotspot_fortaleza, Eleonor V Vorsky e Henrique que visitaram pela primeira vez ou resolveram comentar pela primeira vez aqui sejam bem-vindos e retornem sempre que possível.
"Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade, ou te apontam a realidade, porque amigo é a direção, é a base, quando falta o chão!" Machado de Assis

sábado, 12 de maio de 2007

Natural?

Aproveitando o embalo da visita do papa Bento XVI ao Brasil e todo o alvoroço na mídia que vêm causando, resolvi comentar um assunto que durante boa parte de minha vida causou muito sofrimento.

É sabido por todos a posição que o papa defende com relação a homossexuais. Estão sendo feitas várias manifestações em várias partes sobre essa posição defendida pelo papa. Mas essa não é uma posição exclusiva da Igreja Católica. Quase todas, senão todas as religiões defendem o mesmo ensino (me corrijam se estiver errado) - que a homossexualidade é um pecado sério, que não se deve aprovar e sim condenar a união entre pessoas do mesmo sexo, que isso é algo que vai contra a natureza. Desde pequeno ouço isso, pois fui criado em uma religião que defende essas idéias. Vocês podem então imaginar o quanto eu sofri ouvindo quase que diariamente isso e tendo dentro de mim justamente o que era “errado”. Eu vivia um conflito interno, implorando ajuda. Isso com certeza alimentou minha introversão e baixa estima. Freud disse certa vez: “a voz da razão é baixa, mas persistente”. Alguma coisa não me convencia nessa história e recentemente descobri o que me incomodava.

Como disse, o principal argumento usado pelas religiões contra a homossexualidade é que ela não é natural, o homem não foi criado para ter relação sexual com outro homem. O pênis foi criado para se encaixar naturalmente na vagina no ato sexual. Se ele é usado para fins sexuais em outros lugares é desnatural, dizem as religiões. Vendo por esse lado parece haver lógica. Sexo oral então, também seria desnatural já que conforme o dicionário Aurélio, a boca é definida como a “entrada do tubo digestivo, pela qual os homens e outros animais ingerem os alimentos”. O uso natural da boca seria esse.Não foi feita então para o sexo oral. Mas um momento. Se usarmos esse critério, o beijo seria desnatural também, já que você estaria usando a boca para algo que não foi projetada. Até mesmo beijar e sugar os seios de uma mulher seria desnatural também (o uso natural dos seios seriam a amamentação). E é interessante que a própria bíblia aprova o beijo na boca e o uso sexual dos seios, atos esses que seriam desnaturais se seguirmos esse raciocinio (se quiserem comprovar: Provérbio 5, 19; Cântico dos Cânticos 1, 2).

A questão seria então, não o que é ou não natural, mas o que é ou não aceito como natural. Se para um grupo, determinado comportamento é aceito como comum, para esse grupo ele é natural. Veja o caso dos gregos que aceitavam o sexo entre homens, por exemplo. E cada vez mais hoje existem pessoas que vêem o comportamento gay como normal (nós por exemplo). Tudo bem que muita água precisa rolar embaixo dessa ponte ainda. Mas a água já está fluindo. Há um tempo atrás era completamente fora dos padrões morais um casal viver junto sem estar casado. Mas isso já é aceito como normal por muitos. Então é uma questão de tempo para que o sexo entre homens também seja visto como normal e consequentemente natural. Estou surtando muito? Talvez. Prefiro pensar assim agora. Mas que isso já preocupa e muito o papa, isso preocupa. É cardeal Ratzinger, a revolução já começou. Ou seria evolução?

Como uma homenagem a visita de Bento XVI, finalizo com um belo clip da banda islandesa Sigur Ros:



segunda-feira, 7 de maio de 2007

Desafio


Excepcionalmente escrevo um post logo em seguida de outro. Não costumo fazer isso (para dar tempo de vocês lerem e comentarem). Mas como fui desafiado hoje pelo Oz, achei melhor ser rápido no gatilho. Mas, por favor, leiam e comentem no post anterior, ok?


Se eu fosse. . .
Se eu fosse uma hora do dia, seria o amanhecer, com toda sua esperança.
Se eu fosse um astro, seria um buraco negro, sugando tudo ao redor.
Se eu fosse uma direção, seria para o alto, sempre.
Se eu fosse um móvel, seria um divã (de preferência com um psicanalista do lado).
Se eu fosse um líquido, seria lágrima (de alegria).
Se eu fosse um pecado, seria luxúria.
Se eu fosse uma pedra, seria quartzo.
Se eu fosse uma árvore, seria um Ipê amarelo.
Se eu fosse um fruto, seria uma suculenta melância.
Se eu fosse um clima, seria subtropical
Se eu fosse uma flor, seria uma orquídea.
Se eu fosse um instrumento musical, seria um saxofone.
Se eu fosse um elemento, seria o ar.
Se eu fosse uma cor, seria do azul-celeste ao azul marinho, dependendo do momento.
Se eu fosse um animal, seria uma águia.
Se eu fosse um som, seria a gargalhada de um bêbe.
Se eu fosse uma música, seria “La Forza Della Vita” de Renato Russo para o dia-a-dia, na hora do amor seria uma que conheci recentemente “Straight To Number One”.
Se eu fosse um estilo musical, seria rock.
Se eu fosse um sentimento, seria ternura.
Se eu fosse um livro, seria um romance policial com muito mistério.
Se eu fosse uma comida, seria macarrão a Putanesca.
Se eu fosse um lugar, seria uma praia em Bora Bora.
Se eu fosse um gosto, seria o doce do mel.
Se eu fosse um cheiro, seria cheiro de relva molhada.
Se eu fosse uma palavra, seria tolerância.
Se eu fosse um verbo, seria amar.
Se eu fosse um objeto, seria um câmera digital.
Se eu fosse uma peça de roupa, seria uma cueca de seda.
Se eu fosse uma parte do corpo, seria os olhos.
Se eu fosse uma expressão facial, seria um sorriso.
Se eu fosse um personagem de HQ, seria o Garfield.
Se eu fosse um filme, seria Happy Feet (adoro desenhos).
Se eu fosse uma forma, seria um círculo.
Se eu fosse um número, seria o 1.
Se eu fosse uma estação, seria a primavera, a estação em que nasci.
Se eu fosse uma frase, seria “o tempo é o senhor da razão”.


Como faz parte do jogo (hehehehehehe!!!) eu agora desafio:

domingo, 6 de maio de 2007

Conspiração


Eu tenho observado uma conspiração acontecer ao meu redor. Veja se não tenho razão:
Cena 1 - estou numa consulta com um oftalmologista, pois tenho observado as letras meio que embaçadas quando vou ler. Tenho astigmatismo num grau bem baixo e achava que o grau aumentou. O oftalmo, depois de me examinar, disse que meu grau de astigmatismo estacionou, mas que agora tenho presbiopia. “Pres o quê?” perguntei. “Presbiopia, popularmente chamada vista cansada, é a perda da elasticidade do cristalino que acontece depois dos 40 anos” respondeu o oftamo. “Depois dos 40”, essa frase maldita começou a me preocupar, pois há pouco tempo entrei para a era da idade “enta” (quarenta, cinquenta, etc; se me animar até o fim do post revelo minha idade).
Cena 2 – estou eu lendo a excelente revista Men’s Health (com óculos para vista cansada, fazer o que né?), quando me deparo com a seguinte frase: “A partir dos 40 anos seu corpo começa a perder massa muscular (1% a cada ano)”. Olha a frase maldita aí com roupa nova!
Cena 3 – assistindo tv, num intervalo de um programa qualquer, começa a passar uma propaganda do Boston Medical Group. A loirona da propaganda diz algo assim: “52% dos homens com mais de 40 anos sofrem de disfunção erétil”. Peraí, disfunção erétil é um eufemismo para impotência! A frase maldita atacou de novo. Mas aí já é demais né?
Não estou certo em ver essa conspiração para fazer-nos crer que depois dos 40 anos parece que você chegou ao topo da montanha russa e agora só o que te espera é uma descida rápida para a senilidade? Amigos da casa dos quarenta (e aqueles da casa dos trinta que estão na pré-sala da era "enta"), diante dessa conspiração, dessa lavagem cerebral insidiosa, dessa propaganda subliminar que estamos expostos só temos 2 opções: deixarmos passivamente sermos influenciados, ou ativamente nos rebelarmos contra isso. Como eu sou mais ativo que passivo (pelo menos tento), resolvi não me deixar levar por essa papagaida toda. Isso não quer dizer que vou agir como um “adultescente”, aquele cara que não tem mais 18 anos faz tempo, mas que se comporta como se fosse um menino (lembram do Tio Sukita?). Eu tomo simancol regularmente, podem ficar tranquilos.
Não só eu penso assim. Basta dar uma olhada por aí. Homens e mulheres com mais de quarenta se destacando em meio a tirania da juventude sarada. Exemplos? Vamos lá: no ranking dos homens mais sexy do mundo feito em 2006 pela revista People, o primeiro lugar foi pela segunda vez consecutiva para Goerge Clooney (45 anos), que igualou a marca de Brad Pitt (42 anos e meu sonho de consumo) que ficou em 15º lugar na lista de 2006 (injustiça!!!); o segundo da lista foi Patrick Dampsey (40 anos) da série “Grey’s Anatomy”; na lista também entrou o camaleônico Johnny Deep (43 anos) em 5º lugar. Entre as mulheres vou citar apenas uma, a ícone pop Madonna (48 anos). É, não se fazem mais quarentões como antigamente!

Para mim juventude é uma questão de atitude. Já vi muitos garotos de 16, 18, 20 anos terem atitude de 80 anos, com medo de inovar, de conhecer e de aprender sempre. Para o tributo que o tempo nos cobra há solução. Presbiopia/vista cansada? Óculos (com estilo por favor, nada daquelas armações cafona e nunca, nunca deixe o óculos apoiado na ponta do nariz). Forma do corpo cada vez mais semelhante a uma maçã? Excesso adiposo na barriga? Academia e suplementos. Disfunção erétil/impotência (vade reto)? Viagra. Agora para falta de atitude para com a vida, isso não tem solução. E é triste ver pessoas desistindo de viver, desistindo de sempre cultivar a juventude, não importa a idade física que se tenha. Sim, cheguei ao topo da montanha russa. Só que lá embaixo não vejo a senilidade, mas o início de um looping. Um não, vários.

E é legal quando tenho reconhecimento por essa atitude. Semanas atrás, conversando com um blogueiro pelo msn, a certa altura do papo ele me pergunta: “qual tua idade? vc tem 18 neh?”. Desnecessário dizer que do lado de cá da tela fiquei com um sorriso de orelha a orelha. “Não, tenho um pouquinho mais, 41” respondi. “Pensei q vc tivesse 18”, finalizou ele. Putz, falei minha idade! Tudo bem, não vou apagar, mas se alguém me chamar de “tiozão” vai levar porrada! Eu prefiro maninho, irmão mais velho, sabe? Mas não tão velho, ok?

Se vocês acharam que eu ia terminar esse post sem uma poesia, se enganaram. Uma poesia de Artur da Távola, que decidi colocar na íntegra e não mutilar nada. Eu sei que alguns (im)perfeitos marrentinhos vão dizer: “PPA”. Pode falar, mas se você chegou até aqui, leia a poesia. Diga para os caras que estão te chamando no MSN que você volta em 1 minuto, que está ocupado, que vai ao banheiro, sei lá. Mas leia.

Ser jovem.
Quem não gosta de permanecer jovem?

Ser jovem
é amar a vida, cantar a vida, abraçar a vida,
perdoando até as pedradas que a vida nos joga em rosto.

Ser jovem
é ter altos e baixos, entusiasmos e desalentos.
É vibrar com os momentos bons e passar por cima do que nos machuca,
com um sorriso fácil apagando os percalços.

Ser jovem é apiedar-se dos mais fracos,
não ter vergonha de fazer um sinal da cruz em público,
cantarolar uma canção em pleno ônibus.
E apreciar uma piada gostosa.

Ser jovem
é escrever diário, às vezes.
Copiar poesias de amor e remetê-las ao namorado, à namorada, com assinatura própria.

Ser jovem
é compadecer-se de quem sofre, com aquela vontade imensa de fazer o milagre da cura,
de restituir a saúde àqueles que a gente estima e ama.

Ser jovem
é beber um lindo pôr-do-sol, ar livre e noites estreladas.
Não se intrometer na vida alheia, fazer silêncios impossíveis,
ficar ao lado das crianças, gostar de leitura,
ter ódio de guerra e de ser manipulado.

Ser jovem é ter olhos molhados de esperança e adormecer com problemas,
na certeza de que a solução madrugará no dia seguinte.

Ser jovem é amar a simplicidade, o vento, o perfume das flores, o canto dos pássaros.
Ter alegria ao dramático, ao solene.
E duvidar das palavras.

Ser jovem é vibrar um gol do time,
jogar na loteria esportiva, emocionar-se com filmes de ternura e
simpatizar secretamente com alguém que a gente viu só de passagem.

Ser jovem é planejar praias no fim do ano,
sonhar com um giro pela Europa e uma esticada pela Disneylândia... algum dia.

Ser jovem é sentir-se um pouco embaraçado diante de estranhos,
não perder o hábito de encabular,
tremer diante de um exame e detestar gente gritona e resmunguenta.

Ser jovem é continuar gostando de deitar na grama, caminhar na chuva,
iniciar cursos de inglês e violão, sem jamais terminá-los.
Ser jovem é não dar bola ao que dizem e pensam da gente.
Mas irritar-se, quando distorcem nossas melhores intenções.

Ser jovem é aquele desejo de fazer parar o relógio, quando o encontro é feliz,
quando a companhia é agradável e aventura toma conta do nosso ser.

Ser jovem é caminhar firme no chão, à luz de alguma estrela distante.
Ser jovem é avançar de encontro à morte,sem medo da sepultura e do que vem depois.
Ser jovem é permanecer descobrindo, amando, servindo, sem nunca fazer distinção de pessoas.
Ser jovem é olhar a vida de frente, bem nos olhos, saudando cada novo dia, como presente de Deus.
Ser jovem é realimentar o entusiasmo, o sorriso, a esperança, a alegria, a cada amanhecer...
Ser jovem é acreditar um pouco na imortalidade, em vida.
É querer a festa, o jogo, a brincadeira, a lua, o impossível.
Ser jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo ali.
É só pensar na morte, de vez em quando.É não saber nada e poder tudo.
Ser jovem é gostar de dormir e crer na mudança.
É meter o dedo no bolo e lamber o glacê.
É cantar fora do tom, mastigando depressa, mas engolir devagar a fala do avô.
Ser jovem é embrulhar as fossas no celofane do não faz mal.
É crer no que não vale a pena, mas ai da vida se não fosse assim.
Ser jovem é misturar tudo isso com a idade que se tenha,trinta, quarenta, cinqüenta, sessenta, setenta ou dezenove.

É sempre abrir a porta com emoção. É abraçar esquinas, mundos, luzes, flores, livros, discos, cachorros e a menininha,com um profundo, aberto e incomensurável abraço feito de festa, dentes brancos e tímidos, todos prontos para os desencontros da vida.
Com uma profunda e permanente vontade de ser.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Rosa

Comecemos o mês de maio. Eu ia escrever sobre um assunto quando recebi este texto aí embaixo, muito interessante e pertinente (o assunto que ia escrever tem algo a ver com isso). Achei melhor colocar o texto hoje, senão o post ia ficar muito grande. Leiam, vale a pena! E depois, podem comentar.

"No primeiro dia de aula nosso professor se apresentou aos alunos, e nos desafiou a que nos apresentássemos a alguém que não conhecêssemos ainda. Eu fiquei em pé para olhar ao redor quando uma mão suave tocou meu ombro. Olhei para trás e vi uma pequena senhora, velhinha e enrugada, sorrindo radiante para mim, com um sorriso que iluminava todo o seu ser.
Ela disse:
- Hei, bonitão. Meu nome é Rosa. Eu tenho oitenta e sete anos de idade. Posso te dar um abraço?
Eu ri, e respondi entusiasticamente:
- É claro que pode! - e ela me deu um gigantesco apertão.
- Por que você está na faculdade em tão tenra e inocente idade? - perguntei.
Ela respondeu brincalhona:
- Estou aqui para encontrar um marido rico, casar, ter um casal de filhos, e então me aposentar e viajar.
- Está brincando - eu disse.
Eu estava curioso em saber o que a havia motivado a entrar neste desafio com a sua idade, e ela disse:
- Eu sempre sonhei em ter um estudo universitário, e agora estou tendo um!
Após a aula nós caminhamos para o prédio da união dos estudantes, e dividimos um "milkshake" de chocolate. Nos tornamos amigos instantaneamente.
Todos os dias nos próximos três meses nós teríamos aula juntos e falaríamos sem parar.
Eu ficava sempre extasiado ouvindo aquela "máquina do tempo" compartilhar sua experiência e sabedoria comigo.
No decurso de um ano, Rosa tornou-se um ícone no campus universitário, e fazia amigos facilmente, onde quer que fosse.
Ela adorava vestir-se bem, e revelava-se na atenção que lhe davam os outros estudantes. Ela estava curtindo a vida!
No fim do semestre nós convidamos Rosa para falar no nosso banquete de futebol.
Jamais esquecerei do que ela nos ensinou. Ela foi apresentada e se aproximou do pódio. Quando ela começou a ler a sua fala preparada, deixou cair três das cinco folhas no chão.
Frustrada e um pouco embaraçada, ela pegou o microfone e disse simplesmente:
- Desculpe-me, eu estou tão nervosa! Parei de beber por causa da Quaresma, e este uísque está me matando! Eu nunca conseguirei colocar meus papéis em ordem de novo, então me deixe apenas falar para vocês sobre aquilo que eu sei.
Enquanto nós ríamos, ela limpou sua garganta e começou:
- Nós não paramos de amar porque ficamos velhos; nós nos tornamos velhos porque paramos de amar. Existem somente quatro segredos para continuarmos jovens, felizes e conseguindo sucesso. Você precisa rir e encontrar humor em cada dia. Você precisa ter um sonho. Quando você perde seus sonhos, você morre. Nós temos tantas pessoas caminhando por aí que estão mortas e nem desconfiam! Há uma enorme diferença entre ficar velho e crescer.
Se você tem dezenove anos de idade e ficar deitado na cama por um ano inteiro, sem fazer nada de produtivo, você ficará com vinte anos. Se eu tenho oitenta e sete anos e ficar na cama por um ano e não fizer coisa alguma, eu ficarei com oitenta e oito anos. Qualquer um consegue ficar mais velho. Isso não exige talento nem habilidade. A idéia é crescer através de sempre encontrar oportunidade na novidade. Isto não precisa nenhum talento ou habilidade. A idéia é crescer sempre encontrando a oportunidade de mudar. Não tenha remorsos. Os velhos geralmente não arrependem daquilo que fizeram, mas sim por aquelas coisas que deixaram de fazer. As únicas pessoas que tem medo da morte são aquelas que tem remorsos.
Ela concluiu seu discurso cantando corajosamente "A Rosa".
Ela desafiou a cada um de nós a estudar poesia e vivê-la em nossa vida diária. No fim do ano Rosa terminou o último ano da faculdade que começou há todos aqueles anos atrás.
Uma semana depois da formatura, Rosa morreu tranqüilamente em seu sono.
Mais de dois mil alunos da faculdade foram ao seu funeral, em tributo à maravilhosa mulher que ensinou, através de exemplo, que nunca é tarde demais para ser tudo aquilo que você pode provavelmente ser.
Ficar velho é obrigatório, crescer é opcional."

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Balanço

Declaro encerrado meu feriado prolongado! (embora falte ainda um dia para isso) Quero com isso esquecer esses dias, mas lembrar das lições aprendidas.

Então é hora de fazer um balanço desse dias que passaram. Passei esses dias sozinho em casa (meu pessoal viajou e eu fiquei). Por conta disso queria aproveitar essa "liberdade". Criei altas expectativas em torno de um encontro com um certo alguém, afinal tinha as condições que tanto queria para ter esse encontro - estar junto de alguém que gosto muito e que me provoca fantasias sem ter que me preocupar com o relógio. Dificilmente teria essa "liberdade" novamente. Acertamos vários detalhes para fazer desse encontro, "O" encontro. Saí de casa para encontrá-lo animado e cantarolante. No caminho ele me liga, dizendo que não poderia ir. A princípio pensei que era brincadeira. Mas não era. Algo havia acontecido e ele não poderia ir. Entendi que não era culpa dele, mas surtei diante do fato de não mais haver encontro. Eram altas as minhas expectativas. Nesse caso se aplica a regra: "altas expectativas" + "acaso atrapalhando" = "fundo do poço". Foi horrível o que senti. Raiva, frustração, auto comiseração, medo, indignação, remorso. E se era para ir para o fundo do poço, então vamos para o fundo rolar na lama. Chegando em casa fui assistir o filme Brokeback Mountaim, que queria assistir fazia tempo, mas não tinha a oportunidade. Bom, já viu como fiquei né? Isso foi no sábado. No dia seguinte, domingo, foi um dia de ressaca moral pela noite anterior, a que era para ter sido mas não foi. Um dia de reflexão. Mas havia a possibilidade do encontro se realizar na segunda-feira. Esperança à vista! Outra expectativa frustrada. Ele não pôde. Fim de um sonho. Espero ter outros logo, mas com a lição aprendida. Impossível sair ileso de tudo isso. Mas é caindo que se aprende a andar, um pouco machucado é bem verdade. As cicatrizes servirão de lembraça para não se repetir os mesmos erros.

Então, que comece Maio!


"Amanhã, apesar de hoje
Será a estrada que surge
Pra se trilhar

Amanhã, mesmo que uns não queiram
Será de outros que esperam
Ver o dia raiar

Amanhã, ódios aplacados
Temores abrandados
Será pleno, será pleno"

("Amanhã" de Guilherme Arantes)

sábado, 28 de abril de 2007

Frustração


"O garoto estava feliz. Era a segunda vez que iria a praia. Estava ansioso, excitado até com a possibilidade de novamente desfrutar algumas horas de puro encantamento. E ele imaginava: o toque na areia macia, o cheiro delicioso do mar, o gosto da água em seus lábios, o balançar suave das ondas, o verde profundo do mar. Até acordou mais cedo para se aprontar com cuidado para ver o mar. Mas a natureza conspirou contra o garoto. Choveu torrencialmente aquela manhã. Ele não poderia ver o mar naquela manhã. O garoto não se conformava com essa conspiração. Sabia que não havia um culpado, mas estava frustrado. Forças além do controle de qualquer pessoa o impediram de desfrutar do mar. Na tentativa de aplacar sua decepção foi ao shopping. Andou, olhou e procurou. Mas o mar não estava ali. Ele queria o mar. Voltou para casa esbravejando a sua falta de sorte. Não havia outra alternativa a não ser esperar para ver o mar um outro dia. Mas sabe como é criança, quer as coisas agora, faz birra e até chora para ter o que quer. Mas não adianta. Teria que esperar. E torcer. Torcer para que da próxima vez não chovesse, não houvesse uma nova conspiração da natureza."


(um desabafo em forma de conto)