segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Sotaque?


A revista Superinteressante do mês de fevereiro trouxe uma matéria (página 36) que me fez pensar. Debaixo do título “Gay tem sotaque próprio?”, mencionou-se uma pesquisa feita nos EUA que fazia parte de um estudo de uma universidade. Em parte dizia o seguinte: “O estudo aponta que as lésbicas anglófonas produzem menos o som frontal ‘u’ do que mulheres héteros, e que as vogais faladas pelos homens gays são mais esticadas. Voluntários que participaram do teste não tiveram dificuldade em identificar diferentes orientações sexuais apenas pelo som da voz.” Um psiquiatra que participou da pesquisa concluiu: “A fala dos homossexuais é diferente. Ela mistura características dos dois sexos. A das lésbicas é mais masculina, e a dos homens gays é mais feminina.” A matéria na revista concluiu também que nada é conclusivo e blá blá blá, blá blá blá. Mas dá o que pensar não dá? Vocês já olharam para um cara, prestando atenção no jeito dele, na maneira de falar e concluíram, como já aconteceu comigo: “esse cara leva jeito; acho que ele é do lado rosa da Força”? O contrario também acontece. Já ouviu comentários a seu respeito duvidando da sua “masculinidade”? Aconteceu comigo em mais de uma ocasião. Por exemplo, recentemente, em um emprego anterior, um colega de trabalho me disse que ouviu um comentário feito por uma garota (lésbica assumidíssima) sobre mim. Ela disse para ele:

- “Esse cara, não me engana. Falta só um empurrãozinho pra ele vir pra luz”.

Brothers, fique encucado. Encucado e aterrorizado. Porra, será que eu tô dando bandeira e não percebo? Eu não faço o tipo afeminado, muito pelo contrário, procuro parecer o mais normal hétero possível. Nada contra quem assumiu sua condição e demonstra isso publicamente (queria eu ter essa coragem). Só que não sou assim. Ainda não desamarrei totalmente minhas amarras pra assumir publicamente o que sinto. Tenho muita pedra ainda pra desviar, mas sei que comecei a andar. E sei também que tenho companhia nesse caminho. Uns andam mais depressa. Outros, mais devagar (esse é meu grupo). Mas todos nós avançamos, em diferentes velocidades, mas avançamos. Agora, ser apontado como “gay”, tenho pavor disso. Não gosto de ser identificado com essa palavra. Na minha opinião ela assumiu uma conotação pejorativa na mídia, aquele tipo cômico que insistem em colocar em programa de humor, novelas e filmes, do cara afetado, que desmunheca, que se veste no estilo espalhafatoso. Prefiro a palavra “bissexual” que traduz melhor a nossa realidade (a minha pelo menos). Posso estar sendo preconceituoso. Posso até um dia ter orgulho de ser chamado gay. Não sei. Mas hoje isso me leva a um ataque de pânico. Depois do comentário da nossa amiga sobre mim, é desnecessário dizer que liguei o módulo de camuflagem na força máxima, né? (é claro que não sai por aí cuspindo no chão, conçando o saco toda hora ou mexendo com a mulherada na rua chamando-as de gostosa, aí já é demais; como disse o Lobão: Decadence avec elegance).
Que vocês acham? É possível mesmo identificar no meio da multidão pessoas como nós, pela maneira de falar e se portar? Já passaram por situações assim?

5 comentários:

Luiz Pep disse...

Sim, caro amigo, é possível sim, é muito fácil para um gay perceber outro gay, mesmo que seja másculo. Dei muita risada com o lado rosa da força e um empurrãozinho par luz. Eu não levanto bandeira rosa, mas se um cara me pergunta eu digo que sou gay e pronto, aí tem gente que não acredita. O fato de vc assumir não significa desmunhecar, mas faça isso quando vc achar que deve e se não deve não faça, isso é decisão sua, pessoas falam de tudo e todos, se esquentar vc fica louco, passa a ignorar, como já disse em outro coment, que te ama continuará perto de vc. Bjks :)

Unknown disse...

Olás! O IMperfeito me falou do teu blog, vim conhecer.... Parece bacana, amigo.... Mas, confesso, fiquei surpreso ao me ver na tua lista de blogs! Rsssss....
Beijos.

Unknown disse...

ah, esqueci de comentar....
Olha, é claro que a frase " Um tatu cheira o outro" é mais do que verdade no nosso caso...
Rsss... E o cara pode ser o mais hiper-mega-super bem camulfado, uma hora ele dá algum sinal.

Cara Imperfeito disse...

Tô aqui...
Nunca desconfiaram de mim pela minha voz, mas o 2º cara que fiquei disse que estranhava meu jeito na hora de despedir, disse que eu bobiava na hora de dizer "Ah nãããão". Acho que era mais pra implicar, apesar de que fazia dengo msm!

Nerone disse...

Oi BlueBob. Realmente vc escreve muito bem mas o que eu gostaria de dizer é que o luiz pep está certíssimo. O importante é vc ser vc mesmo. Às vezes o preço a se pagar para ser fiel a si mesmo parece alto demais mas, lhe garanto, é muuuito menor do que o preço que se paga ao se anular para se encaixar em algum modelo pré-estabelecido.
Sobre o sotaque... intuitivamente e observando bastante (sou muito observador) eu já havia percebido o caso das vogais prolongadas. Foi legal ver que tem gente que estuda esse tipo de coisa e, ainda por cima, acabou confirmando o que eu pensava. As travestis e drag queens deveriam parar de fazer aquela voz de pato na tentativa de falar como mulheres. Elas obteriam melhores resultados se usassem as vogais de maneira correta. (Desculpe, não quis soar antipático)
Enfim, é isso.

Abraço