
Eu tenho observado uma conspiração acontecer ao meu redor. Veja se não tenho razão:
Cena 1 - estou numa consulta com um oftalmologista, pois tenho observado as letras meio que embaçadas quando vou ler. Tenho astigmatismo num grau bem baixo e achava que o grau aumentou. O oftalmo, depois de me examinar, disse que meu grau de astigmatismo estacionou, mas que agora tenho presbiopia. “Pres o quê?” perguntei. “Presbiopia, popularmente chamada vista cansada, é a perda da elasticidade do cristalino que acontece depois dos 40 anos” respondeu o oftamo. “Depois dos 40”, essa frase maldita começou a me preocupar, pois há pouco tempo entrei para a era da idade “enta” (quarenta, cinquenta, etc; se me animar até o fim do post revelo minha idade).
Cena 2 – estou eu lendo a excelente revista Men’s Health (com óculos para vista cansada, fazer o que né?), quando me deparo com a seguinte frase: “A partir dos 40 anos seu corpo começa a perder massa muscular (1% a cada ano)”. Olha a frase maldita aí com roupa nova!
Cena 3 – assistindo tv, num intervalo de um programa qualquer, começa a passar uma propaganda do Boston Medical Group. A loirona da propaganda diz algo assim: “52% dos homens com mais de 40 anos sofrem de disfunção erétil”. Peraí, disfunção erétil é um eufemismo para impotência! A frase maldita atacou de novo. Mas aí já é demais né?
Não estou certo em ver essa conspiração para fazer-nos crer que depois dos 40 anos parece que você chegou ao topo da montanha russa e agora só o que te espera é uma descida rápida para a senilidade? Amigos da casa dos quarenta (e aqueles da casa dos trinta que estão na pré-sala da era "enta"), diante dessa conspiração, dessa lavagem cerebral insidiosa, dessa propaganda subliminar que estamos expostos só temos 2 opções: deixarmos passivamente sermos influenciados, ou ativamente nos rebelarmos contra isso. Como eu sou mais ativo que passivo (pelo menos tento), resolvi não me deixar levar por essa papagaida toda. Isso não quer dizer que vou agir como um “adultescente”, aquele cara que não tem mais 18 anos faz tempo, mas que se comporta como se fosse um menino (lembram do Tio Sukita?). Eu tomo simancol regularmente, podem ficar tranquilos.
Não só eu penso assim. Basta dar uma olhada por aí. Homens e mulheres com mais de quarenta se destacando em meio a tirania da juventude sarada. Exemplos? Vamos lá: no ranking dos homens mais sexy do mundo feito em 2006 pela revista People, o primeiro lugar foi pela segunda vez consecutiva para Goerge Clooney (45 anos), que igualou a marca de Brad Pitt (42 anos e meu sonho de consumo) que ficou em 15º lugar na lista de 2006 (injustiça!!!); o segundo da lista foi Patrick Dampsey (40 anos) da série “Grey’s Anatomy”; na lista também entrou o camaleônico Johnny Deep (43 anos) em 5º lugar. Entre as mulheres vou citar apenas uma, a ícone pop Madonna (48 anos). É, não se fazem mais quarentões como antigamente!
Para mim juventude é uma questão de atitude. Já vi muitos garotos de 16, 18, 20 anos terem atitude de 80 anos, com medo de inovar, de conhecer e de aprender sempre. Para o tributo que o tempo nos cobra há solução. Presbiopia/vista cansada? Óculos (com estilo por favor, nada daquelas armações cafona e nunca, nunca deixe o óculos apoiado na ponta do nariz). Forma do corpo cada vez mais semelhante a uma maçã? Excesso adiposo na barriga? Academia e suplementos. Disfunção erétil/impotência (vade reto)? Viagra. Agora para falta de atitude para com a vida, isso não tem solução. E é triste ver pessoas desistindo de viver, desistindo de sempre cultivar a juventude, não importa a idade física que se tenha. Sim, cheguei ao topo da montanha russa. Só que lá embaixo não vejo a senilidade, mas o início de um looping. Um não, vários.
E é legal quando tenho reconhecimento por essa atitude. Semanas atrás, conversando com um blogueiro pelo msn, a certa altura do papo ele me pergunta: “qual tua idade? vc tem 18 neh?”. Desnecessário dizer que do lado de cá da tela fiquei com um sorriso de orelha a orelha. “Não, tenho um pouquinho mais, 41” respondi. “Pensei q vc tivesse 18”, finalizou ele. Putz, falei minha idade! Tudo bem, não vou apagar, mas se alguém me chamar de “tiozão” vai levar porrada! Eu prefiro maninho, irmão mais velho, sabe? Mas não tão velho, ok?
Se vocês acharam que eu ia terminar esse post sem uma poesia, se enganaram. Uma poesia de Artur da Távola, que decidi colocar na íntegra e não mutilar nada. Eu sei que alguns (im)perfeitos marrentinhos vão dizer: “PPA”. Pode falar, mas se você chegou até aqui, leia a poesia. Diga para os caras que estão te chamando no MSN que você volta em 1 minuto, que está ocupado, que vai ao banheiro, sei lá. Mas leia.
Ser jovem.
Quem não gosta de permanecer jovem?
Ser jovem
é amar a vida, cantar a vida, abraçar a vida,
perdoando até as pedradas que a vida nos joga em rosto.
Ser jovem
é ter altos e baixos, entusiasmos e desalentos.
É vibrar com os momentos bons e passar por cima do que nos machuca,
com um sorriso fácil apagando os percalços.
Ser jovem é apiedar-se dos mais fracos,
não ter vergonha de fazer um sinal da cruz em público,
cantarolar uma canção em pleno ônibus.
E apreciar uma piada gostosa.
Ser jovem
é escrever diário, às vezes.
Copiar poesias de amor e remetê-las ao namorado, à namorada, com assinatura própria.
Ser jovem
é compadecer-se de quem sofre, com aquela vontade imensa de fazer o milagre da cura,
de restituir a saúde àqueles que a gente estima e ama.
Ser jovem
é beber um lindo pôr-do-sol, ar livre e noites estreladas.
Não se intrometer na vida alheia, fazer silêncios impossíveis,
ficar ao lado das crianças, gostar de leitura,
ter ódio de guerra e de ser manipulado.
Ser jovem é ter olhos molhados de esperança e adormecer com problemas,
na certeza de que a solução madrugará no dia seguinte.
Ser jovem é amar a simplicidade, o vento, o perfume das flores, o canto dos pássaros.
Ter alegria ao dramático, ao solene.
E duvidar das palavras.
Ser jovem é vibrar um gol do time,
jogar na loteria esportiva, emocionar-se com filmes de ternura e
simpatizar secretamente com alguém que a gente viu só de passagem.
Ser jovem é planejar praias no fim do ano,
sonhar com um giro pela Europa e uma esticada pela Disneylândia... algum dia.
Ser jovem é sentir-se um pouco embaraçado diante de estranhos,
não perder o hábito de encabular,
tremer diante de um exame e detestar gente gritona e resmunguenta.
Ser jovem é continuar gostando de deitar na grama, caminhar na chuva,
iniciar cursos de inglês e violão, sem jamais terminá-los.
Ser jovem é não dar bola ao que dizem e pensam da gente.
Mas irritar-se, quando distorcem nossas melhores intenções.
Ser jovem é aquele desejo de fazer parar o relógio, quando o encontro é feliz,
quando a companhia é agradável e aventura toma conta do nosso ser.
Ser jovem é caminhar firme no chão, à luz de alguma estrela distante.
Ser jovem é avançar de encontro à morte,sem medo da sepultura e do que vem depois.
Ser jovem é permanecer descobrindo, amando, servindo, sem nunca fazer distinção de pessoas.
Ser jovem é olhar a vida de frente, bem nos olhos, saudando cada novo dia, como presente de Deus.
Ser jovem é realimentar o entusiasmo, o sorriso, a esperança, a alegria, a cada amanhecer...
Ser jovem é acreditar um pouco na imortalidade, em vida.
É querer a festa, o jogo, a brincadeira, a lua, o impossível.
Ser jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo ali.
É só pensar na morte, de vez em quando.É não saber nada e poder tudo.
Ser jovem é gostar de dormir e crer na mudança.
É meter o dedo no bolo e lamber o glacê.
É cantar fora do tom, mastigando depressa, mas engolir devagar a fala do avô.
Ser jovem é embrulhar as fossas no celofane do não faz mal.
É crer no que não vale a pena, mas ai da vida se não fosse assim.
Ser jovem é misturar tudo isso com a idade que se tenha,trinta, quarenta, cinqüenta, sessenta, setenta ou dezenove.
É sempre abrir a porta com emoção. É abraçar esquinas, mundos, luzes, flores, livros, discos, cachorros e a menininha,com um profundo, aberto e incomensurável abraço feito de festa, dentes brancos e tímidos, todos prontos para os desencontros da vida.
Com uma profunda e permanente vontade de ser.